domingo, 9 de setembro de 2007

Soletrar o dia

Imagem: Alaistar Magnaldo

Tenho tudo por dizer e gasto palavras
para lá chegar. Não sei se me afasto
ou se chego perto. Se alguma vez rocei
a pele do essencial. E pergunto-me sempre
para quê estas palavras que me teimam.
O passado não é o que está feito,
mas o que a palavra alguma fará de novo.
Por isso leio sempre o futuro, mas não sei
para que lado do tempo escrevo. E se soubesse
que arrasto as letras como um caranguejo
diria que só tenho esta mão de palavras.
Soletro os dias em cada coisa que me olha
quando me sinto a vê-la. É tudo.
E não há desculpas para o que faço.

(Rosa Alice Branco - Soletrar o dia - obra poética)


Soletrar o dia pode ser vivê-lo intensamento como se fosse o último, pode ser admirar o orvalho, saltar no mar, marcar a praia, sentir o vento nas árvores, amar, fundir, receber....


.... s o l e t r e m o s .... o .... d i a ... a .... v i d a....

8 comentários:

Anónimo disse...

Soletrar o dia...

Nem calculas a dimensão da veracidade do que transcreves!

Soletrar é tão somente viver intensamente e tentar fazer de cada som de palavra o verdadeiro hino de viver.

Obrigada por me lembrares a importancia da vida e do saber viver.

V I V A A V I D A

lupuscanissignatus disse...

Soletrar o dia pode ser talhá-lo, como quem saboreia uma verde maçã...:)

Luis Beirão disse...

Muito bonito, de facto. Gostei desta entrada. Não há mesmo desculpas possíveis para o que fazes ;-).

Dalaila disse...

Olá Just a friend:

E assim se vive, e assim se soletra, e assim se começa, e assim se respira.

Olá Lupussignatus!
E assim nem a descasco...

Olá luís!
Que todas as entradas sejam soletradas, para que não hajam desculpas, mas sim prazeres.

rps disse...

Vive cada dia como se fosse o último. Um dia acertas.

Dalaila disse...

Olá RPS!

hehehe, e se não acertar pelo menos tenta-se....

Anónimo disse...

Perco-me por imensas vezes a ouvir Mafalda Veiga, e ela soube brindar-nos como uma musica fabulosa, "O Lume", que resolvo deixar aqui , para que o vento se encarregue de soltar.


Mafalda Veiga - O Lume


Vai caminhando desamarrado
Dos nós e laços que o mundo faz
Vai abraçando desenleado
De outros abraços que a vida dá

Vai-te encontrando na água e no lume
Na terra quente até perder
O medo, o medo levanta muros
E ergue bandeiras pra nos deter

Não percas tempo,
O tempo corre
Só quando dói é devagar
E dá-te ao vento
Como um veleiro
Solto no mais alto mar

Liberta o grito que trazes dentro
E a coragem e o amor
Mesmo que seja só um momento
Mesmo que traga alguma dor
Só isso faz brilhar o lume
Que hás-de levar até ao fim
E esse lume já ninguém pode
Nunca apagar dentro de ti

Não percas tempo
O tempo corre
Só quando dói é devagar
E dá-te ao vento
Como um veleiro
Solto no mais alto mar

Dalaila disse...

Olá airam!

Apesar de não gostar da Mafalda Veiga é linda a letra. Obrigada por partilhares e dares ao vento, e assim a sinto e assim viajo e assim soletro voando.