quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Na mesinha de cabeceira



A minha amiga Marta ofereceu-me este livro no Natal, depois de uma conversa entre a viagem dela a Itália e da minha que ainda vai acontecer.
Só que devido ao meu tempo que anda de rastos e às turras entre o trabalho e um curso de eficiência energética, ainda só consegui andar a Comer por Itália . Nham, nham, mas com sabores especiais.

Ainda assim é uma leitura que se devora, onde o amar, o comer e orar se multiplicam noutros quantos prazeres.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Acorde


Imagem: Injin Park

Onde passou o vento
são altas as ervas,
e os olhos água
só de olhar para elas.

(Eugénio de Andrade - primeiros poemas), oferecido pela minha amiga do coração Rachel

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Um poema


Imagem: Mortem Bjarnhof


Um poeta barroco disse:
as palavras são
as línguas dos olhos

Mas o que é um poema
senão
um telescópio do desejo
fixado pela língua?

O voo sinuoso das aves
as altas ondas do mar
a calmaria do vento:

Tudo
tudo cabe dentro das palavras
e o poeta que vê
chora lágrimas de tinta


(Ana Hatherly)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Eu!


Esta sou eu vista e desenhada pelos olhos da minha grande amiga Su.

Às vezes escreve-se, escreve-se e escreve-se e mostramos o que somos.
Mas realmente como sou? como me vejo? como me sinto?

É dificil escrever sobre mim, mas vou tentar.

Mimalha que me farto!

Derreto-me com um mimo, com um sorriso,
uma palavra doce, um toque inesperado, um encontro imprevisível.

Caminho na vida por cima das ondas,
mas gosto de mergulhar nelas e sentir
o sal,
o frio,
o molhado.

Adorava viver num farol com quadros na parede,
um gato a subir as escadas até ao topo,
um candeeiro que ilumina os corpos de dentro,
com o meu amor que não falta,
com imensos livros a forrarem as paredes,
com uma vitrine cheia de bolinhas de neve,
com fotografias das pessoas do meu coração,

com um jardim pequeno que desse para outros e esses para outros - podia ter uma estufa,
com uma mesa de salgados a cobrir a sala,
para quando as pessoas que adoro baterem à porta nos sentarmos à volta da lareira e conversarmos,
rirmos,
bebermos,
abraçarmo-nos e mesmo chorar se for preciso.

Adoro viver no limiar da aventura,
viajo em mim e nos países que já conheci,
trago recordações, casas que me envolvem o peito,
uma paisagem que pintou a tela do meu corpo,
um restaurante típico,
um fogo de artíficio que não se esquece,
uma conversa noutra língua que me transporta.

Os meus olhos brilham aos sorrisos,
a uma história que não conheço, a um documentário que me inspire, fico horas a conversar sobre um assunto que me entusiasme,
vivo dentro da música, dos meus CDS que comprei, os que me trouxeram e, outros que me deram,
recebo uma palavra escrita ou falada como o maior dos presentes,
- admito que um relógio também me inspira nos meus ponteiros.... e me faz badalar também.

Sou forte,
tendenciosa com os amigos, para mim são meus, e são os melhores do mundo,
às vezes sou teimosa....nem sempre, é mais quando fico picada,
sou simples e adoro a simplicidade das coisas,
não sei mentir, e quando o faço, a minha cara revela a verdade das palavras....
sei levar a luz do farol muitas vezes para onde quero.

Sou apaixonada pela vida, pelo amor, por tudo aquilo em que acredito, que sinta na pele e me faça arrepiar.
Não sei desenhar, mas gostava,
não sei cantar, mas adorava tocar um instrumento,
recortar muito menos,
recorto círculos que mais parecem quadrados, e quadrados que mais parecem triângulos,
sei rir,
sei viver,
sei dar e receber,
sei tudo aquilo que não sei, e não sei nadas muitas vezes,
sei ser eu no melhor e no pior.

Sei ser a criança que fui,
e recordo a minha infância com muita luz,
recordo as árvores de natal cheias de bolas
dos abraços dos meus pais, das corridas,
dos passeios.

Esta sou eu vista pelos olhos de dentro!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A noite desce


Imagem: Mitchell Miller

Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

Assim mãos de bondade me embalassem!
Assim me adormecessem, caridosas,
E em braçadas de lírios e mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe-me embriagada, louca!

E a noite vai descendo, muda e calma...
Meu doce Amor, tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!


(Florbela Espanca)

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

João Aguardela 1969-2009



O meu grande amigo Ricardo Alexandre, grande amigo do João, relata assim, "Conheci o João Aguardela em 1987 através do João Nuno Coelho, sociólogo de futebol e um amigo comum. E na altura, o que nos uniu foi sermos fãs dos Xutos & Pontapés".

E de súbito desaba o silêncio.
É um silêncio sem ti,

sem álamos,
sem luas.
Só nas minhas mãos
ouço a música das tuas.

(Eugénio de Andrade)

A música que não desaparece!

Conheci o João na sua casa perto da Atalaia onde vive o Ricardo, lembro-me era um tempo triste para mim, mas quando entrei naquela casa, lembro-me das crianças na piscina e eram muitas, de uma voz simpática lá de dentro que me inspirou de imediato quando comecei a passar as mãos pelos CDS da prateleira, e claro, começamos logo na conversa sobre grupos, música, e lembro-me dos Vive la Fête que era um grupo que nos agradava aos dois.

Lembro-me da casa, era girissima com uma ambiente que nos abraçava, muito acolhedor, muito alegre, e toda a gente falava de tudo, havia quem só andasse de bicicleta um amigo do João mais moreno, a mulher dele uma simpatia, senti-me muito bem naquela tarde, bebi, ri, dancei, saí de lá outra.

E lembro-me de estar sempre a dizer ao Ricardo, como é que um gajo que gostas destas músicas canta "Vamos ao circo".... sim.... questionava-me e ao mesmo tempo me encatava com a sua voz na fantástica letra "Só o sonho fica, só ele pode ficar!"

A pessoa, Ele, de facto fica na memória.

Este momento é para o meu irmão do coração Ricardo, que está de rastos mas que pela pessoa que é vai sentir o amigo sempre por dentro.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Já em 1766...



E assim é o Reino de Portugal!

Munch sem grito!



Imagem: Museu Munch Oslo Janeiro 09

Possui as obras de Edvard Munch deixadas à cidade de Oslo por testamento, o "Grito" não se encontra no museu, dado que alguém o levou para casa em 2004.

Vale a pena a visita desde esboços e quadros tocantes, está lá tudo.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Vai, vou, fui, era, sou, estou!




Imagens: Narelle Autio

Vai...

Para sonhar o que poucos ousaram sonhar.
Para realizar aquilo que já te disseram que não podia ser feito.
Para alcançar a estrela inalcançável.

Essa será a tua tarefa: alcançar essa estrela.
Sem quereres saber quão longe ela se encontra;
nem de quanta esperança necessitarás;
nem se poderás ser maior do que o teu medo.
Apenas nisso vale a pena gastares a tua vida.

Para carregar sobre os ombros o peso do mundo.
Para lutar pelo bem sem descanso e sem cansaço.
Para enxugar todas as lágrimas ou para lhes dar um sentido luminoso.
Levarás a tua juventude a lugares onde se pode morrer, porque precisam lá de ti.
Pisarás terrenos que muitos valentes não se atreveriam a pisar.
Partirás para longe, talvez sem saíres do mesmo lugar.

Para amar com pureza e castidade.
Para devolver à palavra "amigo" o seu sabor a vento e rocha.
Para ter muitos filhos nascidos também do teu corpo e - ou - muitos
mais nascidos apenas do teu coração.
Para dar de novo todo o valor às palavras dos homens.
Para descobrir os caminhos que há no ventre da noite.
Para vencer o medo.

Não medirás as tuas forças.
O anjo do bem te levará consigo, sem permitir que os teus pés se
magoem nas pedras.
Ele, que vigia o sono das crianças e coloca nos seus olhos uma luz
pura que apetece beijar, é também guerreiro forte.
Verás a tua mão tocar rochedos grandes e fazer brotar deles água verdadeira.
Olharás para tudo com espanto.
Saberás que, sendo tu nada, és capaz de uma flor no esterco e de um
archote no escuro.

Para sofrer aquilo que não sabias ser capaz de sofrer.
Para viver daquilo que mata.
Para saber as cores que existem por dentro do silêncio.
Continuarás quando os teus braços estiverem fatigados.
Olharás para as tuas cicatrizes sem tristeza.
Tu saberás que um homem pode seguir em frente apesar de tudo o que
dói, e que só assim é homem.

Para gritar, mesmo calado, os verdadeiros nomes de tudo.
Para tratar como lixo as bugigangas que outros acariciam.
Para mostrar que se pode viver de luar quando se vai por um caminho
que é principalmente de cor e espuma.
Levantarás do chão cada pedra das ruínas em que transformaram tudo isto.
Uma força que não é tua nos teus braços.
Beijá-las-ás e voltarás a pô-las nos seus lugares.

Para ir mais além.
Para passar cantando perto daqueles que viveram poucos anos e já envelheceram.
Para puxar por um braço, com carinho, esses que passam a tarde
sentados em frente de uma cerveja.
Dirás até ao último momento: "ainda não é suficiente".
Disposto a ir às portas do abismo salvar uma flor que resvalava.
Disposto a dar tudo pelo que parece ser nada.
Disposto a ter contigo dores que são semente de alegrias talvez longe.

Para tocar o intocável.
Para haver em ti um sorriso que a morte não te possa arrancar.
Para encontrar a luz de cuja existência sempre suspeitaste.
Para alcançar a estrela inalcançável.


(À minha grande amiga Cris que há alguns anos - Novembro de 2005, achou que eu precisava deste texto para ir, para alcançar o inalcançável, este post é para ela, toda, e para todos reflectirem sobre ele, está cá tudo)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A voar!


Imagem: Aeroporto de Oslo

Ser lançada no ar e não parar,
voar, voar até ao próximo lugar,
ir sempre e ser lançada no espaço onde as estrelas nos encaminham
e só um farol nos faz voltar ao mar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O MEC é que sabe!


Imagem: Paul Robertso "Blame Your Green Eyes"

O Norte é mais Português que Portugal.

As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
(...)
O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.

Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança.
(...)

(excerto do texto do MEC - Norte)

Contra verdades não há argumentos, ai não há não!

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Para mais tarde recordar!








Imagens: Guimarães , fotos do meu amigo e grande fotógrafo Paulo Pacheco

Um dia como o de hoje, não se esquece!

A minha cidade, que me viu nascer pintou-se de branco, a última vez que me lembro foi em 1981, quando eu ainda não tinha dentes, e hoje saí das portas do escritório e vejo um manto branco a cobrir tudo e todos, a alegria das caras das pessoas é incrível, não se esquece o brilho nos olhos, o espanto, a vontade de ser criança.

As corridas às janelas, os ais que se ouviam, o desejo de ver mais e mais, é mesmo um dia que não se esquece.

Este post só podia ser branco!

Guimarães vestido de branco!







Imagens: Claustros da Câmara de Guimarães, hoje
Um manto vestiu a terra de branco.

Neve em Guimarães




Imagens: meu amigo João Lopes


Um manto branco que pinta as cores da terra!

Estou emocionada.

Guimarães no seu melhor!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Crónica Noruega I






Imagem: Fiord de Oslo e Oslo, Dezembro de 2008

Assim, se começa uma reportagem de uma viagem à terra do frio.
entram barcos nas ilhas em redor de oslo, com gente, com produtos, com vida,
e a cidade ao longe pinta-se com as cores do pôr-do-sol das três das tarde.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Vento do Novo Ano


Imagem: Silaev

Chego com vontade de partir!

volto mas os olhos ficaram lá,
o coração veio comigo,
o corpo também, porque a alma está de mãos dadas no meu peito,
regresso de va gar, porque a minha bússola não me falta,

encontrei o meu norte há mais de um ano, e neste ano ele ruma pelo mar, nas estrelas, nos caminhos, nas estradas, montanhas, quer faça chuva ou sol.

Derreti-me na neve que não faltava, saltei nas pranchas do sonho,
e voltei,

voltei neste novo ano,

onde a imaginação não falta,
onde as luzes dentro das casas são memórias presentes,
onde as orelhas nunca tinham frio,
onde os lábios se aquecem noutros,
e onde marquei o meu caminho, que é sempre rumo ao norte!

rumo a este ano, onde as colheitas serão feitas a meias,
onde todos os frutos serão colhidos por inteiro,
onde as curvas dos corpos se entrelaçam nas estradas.

o fogo pintou o céu em paletes de todas as cores,
pintou-as com rasto até aqui!