segunda-feira, 30 de junho de 2008

Com palavras



Imagem: Aurélie Villegas

Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras - inaudíveis - grito
para rasgar os risos que nos cercam.

Ah!, de palavras estamos todos cheios.
Possuímos arquivos, sabemo-los de cor
em quatro ou cinco línguas.
Tomamo-las à noite em comprimidos
para dormir o cansaço.

As palavras embrulham-se na língua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silêncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?

Possuímos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade...
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmão que as encerra.

Atravessa-nos um rio de palavras:
com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me as palavras para contar...

Egito Gonçalves,
in Sonhar a Terra Livre e Insubmissa

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A respiração profunda




Salaspils, Letónia - memorial do campo de concentracção Nazi

Por detrás desta parede a Terra grita!

quarta-feira, 25 de junho de 2008

De volta


Riga junho 2008


Riga é uma cidade encantadora,
ainda não me recompus...

Vermelho,
azul,
verde,
noites brancas,
longas avenidas,
gatos,
sinos,
fachadas com história dentro,
anos de territórios ocupados,
vida,
crescimento,
elevação,
água banhada por florestas de pinheiro.

cansada, cansada mas de alma nova, volto depois com as histórias.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Uma viagem de sonho


Imagem:ladybirdnest.blogspot.com


E lá vou eu até à Letónia, conhecer Riga a maior dos cidade dos países Bálticos, estou entusiamadíssima, é mesmo um sonho em realidade.

Até à minha volta cheia de imagens.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Como se pode escrever sobre banalidades e ficar a pensar que nada é banal


(Imagem Peta Jones)

As gravatas são uma celebração da inutilidade. São uma forma de dizermos: sim, eu sei que isto não passa de um trapo colorido sem nenhum valor utilitário. Mas o mundo que habitamos, quando despido de qualquer coloração humana, também não passa de uma evidência física incapaz de transportar qualquer sentido, ou beleza, ou eternidade.(...)

Os quadros que amamos são uma mistela de tintas sobre linho: um amontoado de átomos sem nenhuma expressão humana particular. Mas quando os vemos com um olhar grato e deslumbrado, a evidência da tinta desaparece por trás de deuses ou heróis que tomam literalmente conta do quadro. Um traço de tinta é agora um braço; a folhagem perdida de uma vista; o nevoeiro que vem e tudo cobre. E o que ficam são histórias e mais histórias: de como Vénus nasceu das águas. (...)

Mesmo o rosto da pessoa que amamos será uma colecção de tecidos animados por um batimento cardíaco que começa e acaba sem ninguém saber como, ou porquê. Mas o rosto da pessoa que amamos é tudo menos isso: é a promessa de que a nossa solidão é testemunhada e embalada pela simples presença daquele rosto. Os livros de anatomia estão certos. Os livros de anatomia estão completamente errados.

(Excerto do texto de João Pereira Coutinho)

Este texto é mesmo uma delícia, e foi-me enviado pelo meu RG.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A Perfeição


Imagem: Maciej Pokora

O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Porque é tempo de bola!


Imagem: Antonella Arismendi

Vamos relaxar nos relvados ao som da bola que não para,
do apito que não soa,
do coração que rebenta,
do suspiro,
dos ais que se lançam a cada momento,
do golo que se pede,
do passe que não se falhe,
da baliza a vibrar,

de nós a berrar,
da cerveja que vai refrescando,
o tremoço que ajuda,
dos abraços que se partilham,
dos insultos que desopilam,
mas com tudo isto o que é certo é que o coração manda gritar mais uma vez,

FORÇA!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

No caminho


Imagem: Victor G


Procuro a sombra que me tira do sol,
encontrei o sol que me afastou das sombras,
levanto-me sinto o mar
caminho nele com o sol rodeado das palmeiras que me fazem respirar.
A areia marca-se a cada passo,
as pégadas vibram e ondulam-se no vento que bate no mar, as palmeiras viajam comigo, e pintam-me de branco.

quantas pégadas somos nós no caminho?

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Uma delícia de CD



Ando louca com este CD, é mesmo impressionante, as músicas envolvem desde a primeira à última, muito diferentes, muito por dentro, ai vou rompê-lo vou!

Podem conhecer mais do grupo aqui.




sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tempo de florescer


Imagem: Dorota wrbleuska

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.

(William Shakespeare)

segunda-feira, 2 de junho de 2008

A Ti farol parabéns a Ti vento que nunca faltaste!


Lighthouse at Stykkishólmur


Parabéns!

Neste ano caminhei pelas palavras em torno das letras do vento, e da luz que traziam,
neste ano escrevi, senti, li, conheci,
tornei-me vento com um farol que me ilumina,
neste ano o mar começou a falar,
neste ano a luz não faltou,
neste ano este farol cresceu comigo e com quem o lê,
neste ano o vento sopra e não arredo pé do meu lugar,
neste ano todas as letras se juntaram, moldaram, cresceram, pintaram-se com cor,
e nasceu um farol
mais quente,
mais iluminado,

mais transparente,
mais meu,
mais vosso,
mais eu,
___________mais
___________mais
___________mais
___________mais
___________mais
dancei,
brinquei,
fui séria,
gargalhei,
chorei,

adormeci nas letras,
transpareci na curva das palavras, e encondi-me num texto completo,
e assim este farol ganhou um ano de vida,
ganhei eu,
ganhou o vento que caminha nas minhas veias,
ganhou o mar que se foi iluminando,
e ganhou o coração que começou a bombear.
estou feliz neste farol, o vento passará a bater na face que se enrodilha no tempo,
a brisa passará a rajada em dias cinzentos,
a luz não se apagará porque haverá sempre uma letra que a incendiará!


A todos o meu obrigada, a ti farol Parabéns!
A ti vento que me vestes todos os dias!