quinta-feira, 31 de julho de 2008
Chuva que molha o Verão
Imagem: Seansean
Esta chuva que nos molha,
que bate nos vidros e apetece ficar por casa a contar as gotas que saltam das nuvens,
esta chuva que tem cheiro a terra,
que inunda os corpos na rua,
esta chuva que bate em dias que o sol devia espraiar,
e que reluz no chão o branco que devia ser amarelo,
que nos faz escorregar em vez de transpirar,
que deixa que se respire,
que tem sabor a verão à espreita de um Outono ainda fechado,
que nos traz um inverno sem frio,
que nos tira a sede e nos impede de derreter,
esta chuva fora de horas num tempo que não conhecemos,
esta chuva que nos molha a norte e chega ao sul,
esta chuva que se confunde com as ondas do mar sem sal,
que nos banha em qualquer tempo,
porque este tempo
já não é o das estações que rodam no calendário,
é um tempo recente que cambia em cada ano.
E pego em cada gota e aqueço-a com a mão de um verão que ainda está para amanhecer.
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Dunas onde me deito
Imagens: Michel Büschke
Vontade de me confundir com as Dunas e sentir a àgua nos pés que me refrescam,
olhar o céu e misturar-me com o azul,
arrefecer dos dias quentes,
e descansar no azul que me veste por dentro,
sentir o sal,
correr e marcar pégadas onde nem o mar as leve,
voar voar voar voar
deitada na areia e construir um castelo de emoções,
que me arrebatam para outras viagens,
para outros sítios,
locais,
mais frios ou mais quentes,
que me levem ao imaginário das bolas de neve quando tocadas pelas mãos,
essas que são as minhas nas tuas,
essas são as minhas dunas onde me deito.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Kings of convenience
Melodiosos,
Acústicos,
um prado de algodão doce,
beleza pura e calma,
duas vozes em paralelo que caminhavam directos ao coração,
assim foi ontem o concerto na Casa da Música,
onde no final as cadeiras pouco confortaveis deram lugar a um baile em pé onde todos batiam palmas e o corpo moldava-se a cada nota musical.
Valeu a pena saltitar neste céu de letras inspiradoras deste duo folk-pop indie de Bergen, Noruega que se assemelham a um Simon and Garfunkel dos anos 2000, aos Belle and Sebastian com toques de Pearlfishers.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Desperta-me de noite
Imagem: Jean Sebastien Monzani
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
A trégua
a entrega
o disfarce
E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes
Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales.
(Maria Tereza Horta)
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Os amigos que me pintam com cor do vento
Imagem: Dominguez
Há amigos que nos pintam com cor,
esses são os meus amigos,
aqueles que partilham uma música,
um jantar tranquilo ao sabor de um bom vinho e de um cigarro que vai empatando a conversa,
de um toque e um abraço que nunca falta,
de uma mensagem de boa noite ou bom dia,
que nos mandam um postal,
que nos limpam as lágrimas com sorrisos,
que nos marcam de rugas com gargalhadas mútuas,
que nos incendeiam com conversas até de madrugada onde o sofá nos vai aconhegando
_________estão,
_____________são,
________________têm,
____________________vêem,
_________________________ sentem,
brincam com as palavras que nos acariciam,
soletram poesia no modo de vida,
agarram as palavras que transmito,
esculpem e decifram p a l a v r a s na minha pele quer faça chuva ou faça sol,
que se enroscam à casa que os abriga,
que nos abrem a porta a qualquer hora,
são casas sem fechadura, onde a chave se chama amizade,
que nos encontram no sabor de uma tarte,
que nos cheiram num prado,
que nos vestem por dentro,
que me encantam todos os dias,
esses são os meus amigos que têm cor,
e me pintam o arco iris por dentro
em tempo de chuva,
de sol,
de neve,
granizo,
de dia e de noite,
onde os ponteiros não têm horas porque badalam ao bombear do coração.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
Amor
Imagem: Modenkind
Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua?, esse braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente á tua boca,
abre-se a alma à lingua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi facil, nunca,
também a terra morre.
(Eugénio de Andrade)
segunda-feira, 7 de julho de 2008
O vento que incendeia
quarta-feira, 2 de julho de 2008
As linhas
Imagem: Sven Sholz
Quando uma estrada termina, há sempre uma seta,
uma avenida, uma rua, um caminho, um passeio, um carreiro,
uma auto-estrada, uma linha que começa!
A minha estrada é esta que sigo, que vou nela, com todas as curvas e cruzamentos,
páro nos entrocamentos,
acelero nas avenidas,
percorro os becos,
olho as janelas, entro nelas, sigo-as até aos pátios, esvoaço como os pássaros
e percorro a tua linha, que me desvia, que é descontínua que não tenho medo de atravessar, que me leva na mão, que se sente no pé, que me descalça no chão.
Essa estrada que é minha e de mais ninguém,
___________ estrada que me move e me pára,
essa estrada que és tu em mim,
_______________________ e sou eu na vida e nos cruzamentos de avenidas,
perfiro-as estreitas, com becos, luzes ténues, prefiro descobri-la devagar, que me chame para dentro dela, prefiro-a com cor, com muitas s que mude do amanhecer ao deitar,
prefiro-as devagar.
As estradas abertas, as avenidas - acelera-se mas terminam numa portagem, numa cidade, são fáceis.
______ os becos, as pequenas e estreitas ruelas, não terminam
_____________________________________________ e quando terminam sou eu a caminhar em ti!
terça-feira, 1 de julho de 2008
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