Imagem José Santarém, em www.olhares.comSó para mim, o solitário,
Brilham na noite os infinitos astros..
Murmura na fonte da pedra uma canção mágica,
Para mim só, para mim, o solitário,
Movem-se coloridas sombras
Das ambulantes nuvens sobre o campo aberto.
Nem casa nem quinta,
Nem floresta nem reserva de caça me são dadas,
Meu é só o que não é de ningúem
Meu é o regato que desce atrás do véu da floresta,
Meu é o tempestuoso mar,
Meu é o riso das crianças que brincam,
As lágrimas e o canto do solitário amante crepúsculo.
Meu são os templos dos Deuses,
Meu é o majestoso bosque do passado.
E não menos no futuro a luminosa
Abóbada celeste é o meu lar.
Muitas vezes no pleno voo da saudade a minha alma
ascende,
Para fitar o futuro da humanidade feliz,
o amor, para além das leis, amor de povo a povo.
E vejo-os outra vez vestidos de nobreza:
O camponês, o rei, o traficante, o marinheiro activo,
O pastor e o hortelão, todos celebram a festa do mundo
futuro.
Só o poeta falta,
Ele é o solitário que medita,
Ele, o que transporta a saudade humana,
De quem o futuro e o mundo
Não precisam já. Secam
Várias coroas no seu túmulo,
Onde ninguém se lembra dele.
(Hermann Hesse in Poesia do Mundo - Março 2007)
**Eu adoro os escritos do Hermann Hesse, este poema não lhe falta nada, porque o poeta está lá.