segunda-feira, 30 de julho de 2007

As fachadas com água!

Fotografia: Veneza (2005)

Mesmo nas "estradas" secundárias há engarrafamentos!!!

Quem tem prioridade?
Quem vai rumo ao mar?
Quem estaciona à porta?
Quem nos transporta?

domingo, 29 de julho de 2007

Se houvesse degraus na terra...

Imagem: Oswaldo Goeldi (1895-1961) Abandono (1930)

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

(Herberto Helder)

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ruas sem inversão

Imagem: Bloc Party - Weekend in the city

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

(Mario Cesariny 1923-2006)

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Fotografia: RP

Um tostão para comida de Verão...
O Verão por um tostão....

e a caixa mantém-se vazia!



segunda-feira, 23 de julho de 2007

Balão, porque cais?

Imagem: Serigrafia Balloons de Alexander Calder (1973)

Um balão voa,
dilata, cresce, empola,
forma-se e sobe!
Voa nos céus,
voa, expande-se,
até que o fio se desprende,
fica sem rumo,
e esvazia-se...
e aí...
as curvas são outras,
há movimento,
a melodia é intensa,
as direcções são alheias,
e cai...
Cai porque voou,
cai porque se desprendeu,
cai porque mudou de rumo,
cai porque não tem ar,
cai porque se tornou pequeno,
cai, cai, cai...
mas não rebenta,
espera que alguém,
pegue nele o leve, e o volte a colocar nos céus,
onde pertence, onde quer bailar, e para onde o vento o levar.

RP

Agradeço ao RP pela partilha das suas fabulosas fotografias, captadas pelo olhar de quem vê, para lá do olhar.
Ganha o blog, ganhamos todos.

domingo, 22 de julho de 2007

Como esquecer

Fotografia de RP

Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?

As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?
Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas!

É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou de coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doida, devidamente honrada. É uma dor que é preciso, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa, esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos moí mesmo e que nos da cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si, isto é, se os livrrássemos da carga que lhe damos, aceitando o que não tem solução.

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos distrairmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos, amigos, livros e copos, pagam-se depois em conduídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais falta das pessoas que amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor. E a felicidade. A felicidades faz-nos sentir pena e culpa de não a podermos participar. É por estarmos de uma forma ou de outra sozinhos que a saudade é maior.

Mas o mais difícil de aceitar é que há lembranças e amores que necessitam de afastamento para poderem continuar. Afonso Lopes Vieira dizia que Portugal estava tão mal que era preciso exilar-se para poder continuar a Pátria dele. Deixar de vê-la para ter vontade de a ver. Às vezes, a presença do objecto amado provoça a interrupção do amor. É a complicação, o curto-circuito, o entaralamento, a contradição que está ali presente, ali, na cara do coração, impedindo-o de continuar.

As pessoas nunca deveriam morrer, nem deixarem de se amar, nem separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam e separam-se e esquecem-se. Custa a aceitar que os mais velhos, que nos deram vida, tenham de dar a vida para poderem continuar vivos dentro de nós. Mas é preciso aceitar, é preciso sofrer, dar urros, murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração. Perderíamos a releigiosidade, a paciência, a humanidade até.

Há uma presença interior, uma continuação em nós de quem desapareceu, que se ressente do confronto com a presença exterior. É por isso que nunca se deve voltar a um sítio onde se tenha sido feliz. Todas as cidades se tornam realmente feias, fisicamente piores, à medida que se enraízam e alindam na memória que guardamos delas no coração. Regressar é fazer mal ao que se guardou.

Uma saudade cuida-se. Nos casos mais tristes separa-se da pessoa que a causou. Continuar com ela, ou apenas vê-la pode destruir a beleza do sentimento, as pessoas que se amam mas não se dão bem só conseguem amar-se bem quando não se dão.

Mas como esquecer? como deixar acabar aquela dor? É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.

Há grandeza no sofrimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio de remoinho de erros que nos resolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor - temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.

As pessoas morrem, magoam-se, separam-se, abandonam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades. Para esquece-las, é preciso chora-las primeiro. Esta é uma verdade tão antiga que espanta reparar como ainda temos esperanças de contorná-la. Nos uivos da mulheres nas praias da Nazaré não há "histerias" nem "ignorância" nem "fingimentos". Há a verdade que nós, os modernos, os tranquilizados, os cools, os cobardes, os armados em livres e independentes, os tanto-me fazes, os anestesiados temos medo de enfrentar.
Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia - só há lembrança, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.

Esta dor tem de ser aguentada e bem sofrida com paciência e fortaleza. Ir a correr para debaixo das saias de quem for é uma reacção natural, mas não serve de nada e faz pouco de nós próprios. A mágoa é um estado normal. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somo feitos para aguentar com ela.

Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amámos de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, de lhe compormos redondilhas, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isto conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste inexterminável, uma barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.

O que é preciso é igualar a intensidade do amor a quem se ama e a quem se perdeu. Para esquecer, é preciso dar algo em troca. Os grandes esquecimentos saem sempre caros. É preciso dar tempo, dar dor, dar com a cabeça na parede, dar sangue, dar um pedacinho de carne.
E mesmo assim, mesmo magoando, mesmo sofrendo, mesmo conseguindo guardar na alma o que os braços já não conseguem agarrar, mesmo esperando, mesmo aguentando como um homem, mesmo passando os dias vestida de preto, aos soluços, dobrada sobre a areia da nazaré, mesmo com muita paciência e muita má vontade, mesmo assim é possível que não se consiga esquecer nem um bocadinho.

Quanto mais fácil amar e lembrar alguém - uma mãe, um filho, um grande amor - mais fácil deixar de amá-lo e esquecê-lo. Raio de sorte, ó lindeza, miséria suprema do amor. Pode esquecer-se quem nos vem à lembrança, aqueles de quem nos lembramos de vez em quando, com dor ou alegria, tanto faz, com tempo e com paciência, aqueles que amámos com paciência, aqueles que amámos sinceramente que partiram, que nos deixaram, vazios de mãos e cheios de saudades, esses doem-se e depois esquecem-se mais ou menos bem.
E quando alguém está sempre presente? Quando é tarde? Quando já não se aguenta mais. Quando já é tarde para voltar atrás, percebe-se que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar. Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar! Aí, está o sofrimento maior de todos. O luto verdadeiro. Aí está a maior das felicidades.

(Miguel Esteves Cardoso - como esquecer in Último Volume, Assírio & Alvim, 1996)

sexta-feira, 20 de julho de 2007

A chave

.......................................................... Os vazios que não se preenchem..........................................

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Voltar

Foto: Agosto 05

Já fui..
regressei e voltei a ir,
espero voltar e não me perder....

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O farol

Fotografia RP

A luz que penetra o céu nos olhos da noite que a viram!

Morangos silvestres

Fotografia: RP

Os morangos silvestres que pintam a paisagem e a mão que se funde

O canal

Fotografia RP

Um canal que nos transporta num mar sereno que invade o céu!

terça-feira, 17 de julho de 2007

A ti e para ti....


Hoje, fazes anos, tu...

Tu, sempre tu que reúnes o que melhor há no ser humano.
Todos fazemos parte da tua história,
e todos estamos na tua dança.

Tu que vives, fazes viver, respiras ao sabor do vento,
sentes o mundo, como teu,
e colocas quem queres nele.

Eu que faço parte de ti,
desde sempre,
tu que estas na minha pele,
só nós entendemos isto,
mas quem mais precisa...

Nós sabemos que a dança é nossa,
é um privilégio ter-te na minha vida,
desde sempre,
por muitos caminhos que percorrermos,
estaremos sempre unidos,
porque nascemos da mesma terra,
da mesma água,
da mesma luz,
da mesma estrada,
da mesma música!

Gosto muito de ti, e gostarei sempre.

Feliz aniversário...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Paris je t'aime




All i know is, We're all in the dance
Dans la même histoire

http://www.youtube.com/watch?v=McdEy3RRtJs

Tudo o que eu sei é que
estamos todos na mesma dança...

O que então nos vais separar...
Quem por azar nos reúne?

Para quê tantas idas e vindas...
Neste caminho infinito.
Avança ao fio dos tempos...
à vontade do vento,
assim...
Vive-se o dia-a-dia
nossos desejos nossos amores...

Vai-se sem ao menos saber...
e continua...
na mesma história

Vamos todos por aí...
Os pares são "achados e perdidos".

domingo, 15 de julho de 2007

A noite que fica

Imagem: Starry night over the Rhone Vincent Van Gogh, 1888 (Musée d'Orsay, Paris)


Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Morte devagar

Imagem: Cathy Delanssay

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os 'is' em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

(Martha Medeiros)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O meu grande amigo de pequenos almoços à beira mar, em manhãs de domingo, aquele amigo que por muito tempo que não nos vejamos, sabemos que estamos os dois sempre, aqui, ali, acolá, cá, além... para qualquer coisa, mandou-me hoje esta delicia que enche o meu blog...

"De tudo só ficam três coisas: A certeza de que estamos sempre a começar.... A certeza de que é preciso continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar..

Portanto devemos fazer: Da interrupção um novo caminho.... Da queda, um passo de dança.... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro...."
(Fernando Pessoa)

Obrigada lindo.

O Mundo no corpo

Fotografia de Virgiliu Narcis

A dança, o movimento,
a expressão, a feição,
a personagem,
a mão que voa sobre a perna,
a perna que equilibra o corpo,
o corpo que se salienta da pele,
a pele que cobre a máscara,
a máscara que passeia a face,
a face que se ilumina pela música,
a música que acompanha o coração,
o coração que não bate,
bombeia,
o sangue que se dilui nas veias,
eleva o corpo,
transmite movimento,
encoraja...e alcança céu...
...o solo...
... as estrelas...
... a luz...

terça-feira, 10 de julho de 2007

A ausência

De férias em estúdio.... a semana da dança....
Sábado dia 14, apresentação final... Até lá o meu corpo ficará negro... de negras...

domingo, 8 de julho de 2007

sexta-feira, 6 de julho de 2007


Can you read my mind....

Coração, Rodeado, Interior, Sabedoria...

Imagem: Cathy Delanssy

Há uma amiga, que quer que lhe escreva,
mas que posso eu escrever, em páginas já todas elas escritas!

ecritas por ela, por nós, por todos que a rodeiam,
escritas por prazer meu,
escritas em mãos de água,
escritas em olhos vidrados,
escritas em noites de colo no sofá,
escritas nas gargalhadas,
nas noites mal dormidas,
na lareira,
no copo na mão,
no mar...

escritos, sempre escritos..
não aquela escrita rebuscada, trabalhada,
só a sentida....

nela se escrevem as pessoas,
escrevem horas amargas,
escrevem horas de sorriso,
escrevem-se viagens,
escrevem-se sonhos,
soletram-se letras de amizade,
narram-se histórias imaginadas,
expõe-se verdades.
expomo-nos nas realidades,
sentimo-nos nos sonhos,
escreves-te, e escreves poesia vivida,
em mim, em ti, em nós,
em quem gostas e a quem tem o privilégio
de te ter.


Coração, Rodeado, Interior, Sabedoria...

Se o amor quiser voltar


Se o amor quiser voltar
Que terei pra lhe contar
A tristeza das noites perdidas
Do tempo vivido em silêncio
Qualquer olhar lhe vai dizer
Que o adeus me faz morrer
E eu morri tantas vezes na vida
Mas se ele insistir
Mas se ele voltar
Aqui estou sempre a esperar

(Vinicius de Moraes)

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Poemas partilhados por um amigo

Um amigo, de partilhas, de folhas brancas que se escrevem, de sentimentos, de histórias, enviou-me hoje estas duas delicias, a ele e por ele coloca-as no meu blog. Ele merece, merecemos todos.

Biografia

quando sozinho, sofro.
com gente, finjo.
se amado, fujo.
amante, disfarço.
permanecendo, inquieto.
calado, penso.
pensando, calo.
tocado, tremo.
tocando, recuo.
vencedor, desinteresso.
vencido, odeio.
quase morto,
vivo assustado.
quase vivo,
morro de medo.

(Ulisses Tavares)

Por um Triz

a gente perde um amor por
tão pouco.
o lugar que não se foi
olhar não cruzado
rua desviada
frase não ousada
mão recolhida instantes após.
amor que perdi
quem me ensinou.

(Ulisses Tavares)

Obrigada por estes dois momentos, foram deliciosos à alma.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Voz da "Serenidade és minha"


Hoje...
Ouvi a voz da alma e da emoção a soletrar cada instante do "vem serenidade...",
A voz da estrela reluzente com toda a sua força e serenidade, entrou na pele de quem ouvia.
E assim, me deito, a olhar as estrelas do meu tecto....

Obrigada pelo momento
Serenamente serena....serenidade és minha!

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Aurora boreal


Tenho quarenta janelas
nas paredes do meu quarto.
Sem vidros nem bambinelas
posso ver através delas
o mundo em que me reparto.
Por uma entra a luz do Sol,
por outra a luz do luar,
por outra a luz das estrelas
que andam no céu a rolar.
Por esta entra a Via Láctea
como um vapor de algodão,
por aquela a luz dos homens,
pela outra a escuridão.
Pela maior entra o espanto,
pela menor a certeza,
pela da frente a beleza
que inunda de canto a canto.
Pela quadrada entra a esperança
de quatro lados iguais,
quatro arestas, quatro vértices,
quatro pontos cardeais.
Pela redonda entra o sonho,
que as vigias são redondas,
e o sonho afaga e embala
à semelhança das ondas.
Por além entra a tristeza,
por aquela entra a saudade,
e o desejo, e a humildade,
e o silêncio, e a surpresa,
e o amor dos homens, e o tédio,
e o medo, e a melancolia,
e essa fome sem remédio
a que se chama poesia,
e a inocência, e a bondade,
e a dor própria, e a dor alheia,
e a paixão que se incendeia,
e a viuvez, e a piedade,
e o grande pássaro branco,
e o grande pássaro negro
que se olham obliquamente,
arrepiados de medo,
todos os risos e choros,
todas as fomes e sedes,
tudo alonga a sua sombra
nas minhas quatro paredes.

Oh janelas do meu quarto,
quem vos pudesse rasgar!
Com tanta janela aberta
falta-me a luz e o ar.


(António Gedeão)

A gente vai continuar

Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

(Jorge Palma)


(Esta música não tem imagem, porque as cores da aguarela começam a perder-se...)

Cabaret Molotov


Sábado 30 de junho, depois de um curso de dança performativa, que fazer à noite?? O Teatro de Marionetas do Porto, com a peça Cabaret Molotov, ia actuar a Espinho, porque não?? Porque sim... e ainda bem que sim.

Apesar de ter sido difícil lá chegar, o auditório onde iam actuar, era complicado, e as pessoas de Espinho, estavam com alguma dificuldade em explicar-se ou eu a entender-me, da rua 23, íamos para a 103, das 545, íamos para 365, da 4, para 10 e a rua 33, nada, nem sombra.
Mas eu e o meu amigo continuamos, insistimos e lá fomos encontrar, e ainda bem, porque valeu mesmo a pena.

Foi um momento mágico, saí de lá a voar como as marionetas e com partes do meu corpo a voar comigo, estava desconstruída.
Foi fantástico, os interpretes eram as marionetas, e deixavam de ser, eram dois corpos que se fundem num só, num misto de dança, música, cor, brilho, encanto é erótico.
Assistir ao Cabaret, é entrar num sonho, num misto de fantasia, dos cabarets de Berlim, com toques muito pessoais.
Viaja-se, divertimo-nos, pensamos, e entramos no nosso imaginário e no sonho deles.
A instrumentista é divinal, a conjugação das músicas são autênticos brilhos constantes, e de uma excelente qualidade quer a escolha, quer a interpretação.
Grande Sábado à noite, ainda percorre até hoje.
O meu amigo sentiu o mesmo...

Adorei, obrigada, parabéns.

Teatro de Marionetas do Porto
encenação de João Paulo Seara Cardoso.

Interpretação
Edgard Fernandes
Sara Henriques
Sérgio Rolo
Shirley Resende (instrumentista)

domingo, 1 de julho de 2007

Àgua

A àgua entra, caminha,
varre tudo,
sangue,
sensações,
sentimentos,
pulsações,
beijos,
varre tudo, limpa tudo,
A àgua entrou pelas veias,
secou e tornou tudo àgua,
limpída, insípida, fresca, transparente,
sempre água,
só água,
e na água me encontro, e nela me perco.
Perco-me das ondas,
da terra,
do céu,
das estrelas,
das cores,
porque sou àgua.