sexta-feira, 29 de junho de 2007

Tulipa


Abres-te ao vento, desmacaras-te, e tornas-te vísivel a olho nu....

O candeeiro


Pendurei a luz para alguém se baloiçar nela... assim o vermelho penetra

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Vieste como um barco carregado de vento...


Vieste como um barco carregado de vento, abrindo
feridas de espuma pelas ondas. Chegaste tão depressa
que nem pude aguardar-te ou prevenir-me; e só ficaste
o tempo de iludires a arquitectura fria do estaleiro

onde hoje me sentei a perguntar como foi que partiste,
se partiste,
que dentro de mim se acanham as certezas e
tu vais sempre ardendo, embora como um lume
de cera, lento e brando, que já não derrama calor

Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar
o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes;
e não existe no mundo cegueira pior do que a minha:
o frio do horizonte começou ainda agora a oscilar,
exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam
no cais como se transportassem no corpo o vaivém
dos barcos. Dizem-me os seus passo

que vale a pena esperar, porque as ondas acabam
sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei
que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde
para quase tudo. Por isso, vou para casa

e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.
(Maria do Rosário Pedreira - o Canto do Vento nos Ciprestes)

terça-feira, 26 de junho de 2007

Por onde vão as estradas

Por onde vão as estradas,
por onde caminham longas avenidas,
entre verdes campos, entre montanhas que aparecem no relento das manhãs, e nas noites frias, as estradas cruzam-se em cada caminho, são estradas perdidas, que nos levam e nos transportam para outras estradas, que não conhecemos, não têm placas, nem nomes, nem destinos.
São as estradas da vida, com pontes, tunéis, claras, escuras, em alcatrão, em pedrado, ou terra batida, são as estradas que devemos caminhar, percorrer, apanhar boleia, ou parar à espera que outra estrada, outro entroncamento se cruze, se encarregue de nos fazer viajar...

ai as estradas locais de passagem, de viragem, de caminhos, de aventuras, de chão firme, ou não... que importa,
o importante é olhar a estrada, e com ela às costas no peito, andar, e ir, ir sempre, na viagem no caminho da estrada, e não fazer inversão de marcha, o que há para lá... no fim da estrada deve ser sentido, admirado, chorado, mas vivido.

ai as estradas da vida! que boas que sois, sem elas estaríamos sempre, no canto à espera de construções.

Quero ir nessa estrada, na companhia da lua da melodia dos pássaros, e derreter-me no alcatrão até me esculpir no tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

A alcatifa inexistente


O corpo deitado,
o livro aberto,
a letra da música,
tu,
o chocolate derretido,
o filme
as estradas perdidas,
o abraço ondulado da música para as palavras,
o olhar.
Na terra dos sonhos,
o mar passa
para dentro e desagua em ti,
a lua ascende de dia,
o sol brilha na escuridão,
tu estás na curva do corpo,
derretido, aberto, quente...

mas quando vens visitar os sonhos?
que já nem neles apareces..

já gastaste a face, as rugas, os olhares a pele...
no prado, no sul, nas searas,
trocas olhares e eu derramo lágrimas...

Eu sei, não te conheço mas existes...

Eu sei, não te conheço mas existes.
Por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono
cresceram no teu peito duas alegres laranjas
que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
Não é um sonho, juro,
são apenas as minhas mãos sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.

É apenas este rio que me percorre há muito
e desagua em ti,
porque tu és o mar
que acolhe os meus destroços.

É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome
com todas as coisas.
Tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente à tua procura,
sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar
só porque é a ti,
a ti que eu amo.


Joaquim Pessoa, Os Olhos de Isa

sábado, 23 de junho de 2007

É hoje noite S. João

Foto: João Jose (obrigada amigo)

É hoje,
é logo,
amanhã,
pela noite até ao dia!


Os martelos soltam-se de cabeça em cabeça,
de todas as cores e feitios,
grandes,
pequenos,
com sinos,
amarelos,
vermelhos,
laranjas,
azuis e brancos,
caminha-se pela ruas estreitas,
com cheiro a gente, a vida, a alegria,
com música que sai das paredes,
com emoções desde as caras mais enrugadas,
às mais tenras.


As luzes, as cores, os mangericos,
estão nas varandas, nas janelas,
cumprimentam-nos, acenam-nos
com o verde, com o cheiro, com palavras,
com gente, com povo, com PORTO.


É o Porto,
mais vivo, mais verdadeiro,
é o porto com luz,
pela noite,
com ar quente,
as luzes caminham nas estrelas,
seguem-se no vento,
unem-se no rio,
até que o fogo não apague.


São milhares de balões cintilantes,
que claream a noite escura,
que dão voz às pessoas,
que se unem no chão...


É a noite mais longa do ano...
noite de paixão,
noite de sardinha,
de vinho,
de brindes,
de bailaricos em Miragaia, Fontainhas...
de amigos,
de verdades!


Que seja uma noite com fogo para todos!

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Os corpos


Os dois corpos ondulam-se no tempo,
desesperam na angústia do tempo que lhes cabe,
que tempo irá parar os corpos?
que corpos se manterão?
Unidos, estarão sempre,
são corpos bafejados pelas ausências:
da pele,
do toque,
do contacto,
do prazer,
sãos machos,
são fêmeas,
pessoas,
jardins,
flores,
são pedras,
são tudo aquilo,
que os tempos os tornaram.

Permanecem os corpos ausentes,
continuam os presentes,
os corpos são indivisiveis,
ficam com eles,
a vontade de se ondularem,
sentirem,
bailarem,
cruzarem,
fica a vontade...

São corpos celestes,
que se abraçam nas estrelas,
que se embrulham com os planetas,
permanecem com o sol,
e procuram o meteoro,
para voltarem,

são nus,
são vivos,
são corpos.


terça-feira, 19 de junho de 2007

A manhã


Naquele muro,
junto ao mar,
ao farol,
à luz,
aos barcos,
era manhã,
cedo,
a discussão estava no ar,
mas a vontade era grande,
a lâmina ia arrastando-se,
pelas mãos unidas,
as mãos de alguém,
e de mais ninguém...
o vermelho saltou, penetrou,
entrou, cruzou-se,
e uniu,
essa manhã, de há longos anos,
ficará sempre,
dentro dos corpos,
que a viveram...

Todos precisamos de manhãs...

sábado, 16 de junho de 2007

A minha sala...

A minha sala tem música,
tem vozes dos pássaros,
é quente,
envolve,
é a minha sala.

os livros folheiam-se a cada passo,
os discos estão devorados,
por dentro,
por fora,
o chão tem vinda,
tem castanhas,
vinho tinto em copos junto à lareira,
o fogo invade, ilumina, aquece...

A minha sala tem todas as cores.

é negra quando entra a noite,
sem sons, sem passos,
é vermelha,
quando as luzes irradiam,
e os sorrisos estampados nas paredes,
é azul, quando os livros se abrem,
percorremos as páginas, as comemos,
é branca quando a serenidade,
entra pelas janelas,
abertas,
fechadas,
de dia ou de noite,
e nos acalma ao som
de uma pauta que dança.

A minha sala, esta minha sala,
onde as conversas duram, repetem-se,
ao som do silêncio,
porque se entranharam nas paredes
da vida, da pele....

a minha sala, esta minha sala
tem vozes,
tem gente que vive,
e permanece,
não muda,
mas altera-se,
"metamorfeiasse"

A minha sala, esta minha sala é o meu coração....

quinta-feira, 14 de junho de 2007

A Janela...


Se eu tivesse uma casa azul,
com uma janela aberta, saltava,
podia ser de papel,
mas saltava,
pulava,
soltava-me,
para dentro de outro papel,
podia ser azul, ser uma casa,
ter tecto ou não, chão não importa,
mas que tivesse musica,
neve,
vida,
alma,
o que importa é a dimensão,
do salto,
do pulo,
de quem nos apanha,
para lá do papel!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Oeiras quase Alive

Fim de semana em terra batida,
onde as colunas o público, as palmas,
os cantores, os instrumentos foram reis.
Eu lá no meio soltei-me, ri, cantei, dancei,
o amigo que me acompanhava era de coração,
um irmão de vida e de acontecimentos,
nas pedras e no rio solto e puro,
há irmãos de alma, que partilham sorrisos,
choros, abraços, que estão sempre lá,
a um passo de nós, mesmo distantes,
sempre presentes, com um sorriso,
uma palavra meiga, um gesto carinhoso,
esse é o meu amigo,
é grande,
é ímpar,
é leal,
é sincero,
é tudo aquilo que se procura num amigo,
que sorte e felicidade a minha em poder ter-te,
companheiro da música, do nosso rock, e dos outros também.

A música estava e saia dos palcos em sons de cá e das américas,
o público delirava, eram muitos, vinham de todo o lado,
os transportes públicos, esses foram os únicos que faltaram, comboios nem vê-los eram apenas os trilhos que percorriam as noites, os táxis esses paravam e seguiam não compensava a deslocação, horas e horas de espera para sair de um lugar tão perto de tudo mas tão longe da organização.
Culpados não conheço, não sei quem são, mas foram largas as horas de espera pela luz de volta a casa, eu e o meu amigo, sempre de braços estendidos a mais um taxi que passava, que acelerava, e não parava... é impressionante....

O fenómeno chamou-se Oeiras Alive, é verdade que foi vivo, vivo em alma, em partilha, em som.

Os afamados smashing pumpkins, em letra minúscula não foram maiores que isso, esqueceram-se para onde vinham, deram umas guitarradas e nem a sua voz tão particular, se notou, eles estiveram lá, mas alives não...

Os Pearl Jam dignificaram mais uma vez o seu nome, a música e a sua simpatia, com um papel na algibeira, lido a cada momento, soltaram o português pelos microfones.

Os White Stripes, de vermelho encheram-nos de ritmo, som, força.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Cerejeira

Hei-de um dia plantar uma cerejeira,
daí todos os frutos serão dois,
unidos,
vermelhos, amadurecidos,
presos apenas,
pela arte de terem
nascido juntos,
aí sim,
poderei deitar-me
dormir, enroscar-me
na terra onde nasci...

Eugénio de Andrade

Sê Paciente

Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

In as mãos e os frutos...

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.


Serenidade, és minha

Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humanidade das bocas.

Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os lábios cheguem à altura dos beijos.

Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os montros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita os cabelos.

Vem serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo,
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.

Vem, serenidade,
com a paz e a guerra
derrubar as selvagens
florestas do instinto.

Vem, e levanta
palácios na sombra.
Tem a paciência de quem deixa entre os lábios
um espaço absoluto.

Vem, e desponta,
oriunda dos mares,
orquídea fresca das noites vagabundas,
serena espécie de contentamento,
surpresa, plenitude.

Vem dos prédios sem almas e sem luzes,
dos números irreais de todas as semanas,
dos caixeiros sem cor e sem família,
das flores que rebentam nas mãos dos namorados,
dos bancos que os jardins afogam no silêncio,
das jarras que os marujos trazem sempre da China,
dos aventais vermelhos com que as mulheres esperam
a chegada da força e da vertigem.

Vem, serenidade,
e põe no peito sujo dos ladrões
a cruz dos crimes sem cadeia,
põe na boca dos pobres o pão que eles precisam,
põe nos olhos dos cegos a luz que lhes pertence.
Vem nos bicos dos pés para junto dos berços,
para junto das campas dos jovens que morreram,
para junto das artérias que servem
de campo para o trigo, de mar para os navios.

Vem, serenidade!
E do salgado bojo das tuas naus felizes
despeja a confiança,
a grande confiança.
Grande como os teus braços,
grande serenidade!

E põe teus pés na terra,
e deixa que outras vozes
se comovam contigo
no Outono, no Inverno,
no Verão, na Primavera.

Vem, serenidade,
para que não se fale
nem de paz nem de guerra nem de Deus,
porque foi tudo junto
e guardado e levado
para a casa dos homens.

Vem, serenidade,
vem com a madrugada,
vem com os anjos de oiro que fugiram da Lua,
com as núvens que proíbem o céu,
vem com o nevoeiro.

Vem com as meretrizes que chamam da janela,
volume dos corpos saciados na cama,
as mil aparições do amor nas esquinas,
as dívidas que os pais nos pagam em segredo,
as costas que os marinheiros levantam
quando arrastam o mar pelas ruas.

Vem serenidade,
e lembra-te de nós,
que te esperamos há séculos sempre no mesmo sítio,
um sítio aonde a morte tem todos os direitos.

Lembra-te da miséria dourada dos meus versos,
desta roupa de imagens que me cobre
corpo silencioso,
das noites que passei perseguindo uma estrela,
do hálito, da fome, da doença, do crime,
com que dou vida e morte
a mim próprio e aos outros.

Vem serenidade,
e acaba com o vício
de plantar roseiras no duro chão dos dias,
vício de beber água
com o copo do vinho milagroso do sangue.

Vem, serenidade,
não apagues ainda
a lâmpada que forra
os cantos do meu quarto,
papel com que embrulho meus rios de aventura
em que vai navegando o futuro.

Vem, serenidade!
E pousa, mais serena que as mãos de minha Mãe,
mais húmida que a pele marítima da cais,
mais branca que o soluço, o silêncio, a origem,
mais livre que uma ave em seu voo,
mais branda que a grávida brandura do papel em que escrevo,
mais humana e alegre que o sorriso das noivas,
do que a voz dos amigos, do que o sol nas searas.

Vem serenidade,
para perto de mim e para nunca.
… … ... … ... … … … … … … … … … … … … … … … … … … …
De manhã, quando as carroças de hortaliça
chiam por dentro da lisa e sonolenta
tarefa terminada,
quando um ramo de flores matinais
é uma ofensa ao nosso limitado horizonte,
quando os astros entregam ao carteiro surpreendido
mais um postal da esperança enigmática,
quando os tacões furados pelos relógios podres,
pelas tardes por trás das grades e dos muros,
pelas convencionais visitas aos enfermos,
formam, em densos ângulos de humano desespero,
uma núvem que aumenta a vâ periferia
que rodeia a cidade,
é então que eu peço como quem pede amor:
Vem serenidade!
Com a medalha, os gestos e os teus olhos azuis,
vem, serenidade!

Com as horas maiúsculas do cio,
com os músculos inchados da preguiça,
vem, serenidade!

Vem, com o perturbante mistério dos cabelos,
o riso que não é da boca nem dos dentes
mas que se espalha, inteiro,
num corpo alucinado de bandeira.

Vem serenidade,
antes que os passos da noite vigilante
arranquem as primeiras unhas da madrugada,
antes que as ruas cheias de corações de gás
se percam no fantástico cenário da cidade,
antes que, nos pés dormentes dos pedintes,
a cólera lhes acenda brasas nos cinco dedos,
a revolta semeie florestas de gritos
e a raiva vá partir as amarras diárias.

Vem, serenidade,
leva-me num vagon de mercadorias,
num convés de algodão e borracha e madeira,
na hélice emigrante, na tábua azul dos peixes,
na carnívora concha do sono.

Leva-me para longe
deste bíblico espaço,
desta confusão abúlica dos mitos,
deste enorme pulmão de silêncio e vergonha.
Longe das sentinelas de mármore
que exigem passaporte a quem passa.
A bordo, no porão,
conversando com velhos tripulantes descalços,
crianças criminosas fugidas à polícia,
moços contrabandistas, negociantes mouros,
emigrados políticos que vão
em busca da perdida liberdade.
Vem, serenidade
e leva-me contigo.

Com ciganos comendo amoras e limões,
e música de harmónio, e ciúme, e vinganças,
e subindo nos ares o livre e musical
facho rubro que une os seios da terra ao Sol.

Vem, serenidade!
Os comboios nos esperam.
Há famílias inteiras com o jantar na mesa,
aguardando que batam, que empurrem, que irrompam
pela porta levíssima,
e que a porta se abra e por ela se entornem
os frutos e a justiça.

Serenidade, eu rezo:
Acorda minha mãe quando ela dorme,
quando ela tem no rosto a solidão completa
de quem passou a noite perguntando por mim,
de quem perdeu de vista o meu destino.

Ajuda-me a cumprir a missão de poeta,
a confundir, numa só e lúcida claridade,
a palavra esquecida no coração do homem.

Vem serenidade
lve os vencidos,
regulariza o trânsito cardíaco dos sonhos
e dá-lhes nomes novos,
novos ventos, novos portos, novos pulsos.

E recorda comigo o barulho das ondas,
as mentiras da fé, os amigos medrosos,
os assombros da Índia imaginada,
o espanto aprendiz da nossa fala,
ainda nossa, ainda bela, ainda livre
destes montes altíssimos que tapam
as veias ao Oceano.

Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.
E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermos
a nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.

E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caoss e carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.

Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.

Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.

Vem, com teu frio de esquecimento,
com a tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!

Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é demais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.

Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente
Serenidade, és minha.

(Raul de Carvalho)

Obrigada aos meus tios pela partilha deste belissimo poema, que nos ajuda sempre, mas quem tem uns tios como eu, já tem uma serenidade profunda.

Ao amigo que nos captou...


Um amigo,
foi,
entrou,
caminhou,
sentou-se,
sorriu-nos...
que bom o nosso amigo,
é sempre importante,
sabermos que apenas com umas palavras,
sobre para onde íamos
suscitamos curiosidade,
amizade,
e ele apareceu,
apareceu,
captou-nos,
e também construiu a sua personagem,
contribui,
deu-se
Obrigada amigo.

A ti amigo que trabalhamos há tantos anos juntos, e que como sempre demonstras para comigo uma sincera e livre amizade

As fotos anteriores são do nosso amigo, que são sempre fenomenais apesar, segundo ele, a maquina era foleira....

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A aula aberta de dança
















Dança Contemporânea

Eu diria que a dança contemporânea é o corpo em nós, em mim.
As mãos alcançam o céu, o pé é firme, o corpo é ondulante, a face em sintonia com a luz, e a música entra pela pele.
Hoje, e com a dança contemporânea, fomos desamarrados de alguns conceitos, esta pode ser sem música, só de improviso, de cópia e, mesmo não se dançar.
O corpo pode ficar parado, e mexe, ondula, vibra, estremece, corre... sem qualquer movimento!!!
Ontem, os corpos caminharam pelo chão, de pé, deitados, alinhados ou não, com movimentos de cada um, cada um sente a música como sua, as letras, as palavras, os conceitos os números, a música é lenta ou rápida, e o corpo acompanha ou não esse ritmo.
O ritmo somos nós, o nosso coração e os nossos sentimentos.
O público presente foi fantástico aderiram, aplaudiram, sentiram, entusiasmaram-se, mas principalmente conheceram.
O ausente aquele que estava dentro de nós, acompanhou-nos a cada passo, por dentro, o corpo ondulava para eles também, todos os que nos inspiram, nos dão força, nos fazem voar, e principalmente acreditar.
O público também somos nós que acreditamos, que somos curiosas, sem medos, nem receios, e expandimos o corpo...
Bem hajam a todo o grupo, uniforme, diferente mas sempre em sintonia.
A Joana, faz-nos pensar, meditar, mas principalmente improvisar, saltar, por dentro de nós.
Adorei a experiência e quero continuar....

terça-feira, 5 de junho de 2007

Para onde me leva o olhar

Para onde me leva olhar, para onde,
para onde não quero ir,
para onde as pernas tremem, o sorriso estampa,
mas para onde não quero ir,
para onde os suores são quentes,
a alma é grande,
mas para onde não quero ir...
os prados ficam verdes,
as tulipas florescem,
os girassóis giram, giram, giram,
mas para onde não quero ir,
as estradas, tornam-se longas avenidas de malmequeres,
o céu passa para brilhar a estrada,
as estrelas encandeiam a noite,
mas para onde não quero ir,
a àrvore cresce, as janelas têm pingos, os livros andam,
o chão treme, mexe e salta,
mas para onde não quero ir,
os gatos saltam, arranham, ronronam,
mas para onde não quero ir,
as luzes das cidades brilham nos edificios,
as cortinas das casas mostram sombras de luzes amarelas no seu interior,
os quadros têm cor, a música é sonante,
mas para onde não quero ir,
mas vou...
o olhar brilha, o coração treme,
a pele estremece, os cabelos voam,
o sorriso aparece, e os lábios ficam vermelhos,
porque eu quero ir, mas não vou...

domingo, 3 de junho de 2007

Hoje é domingo...

Domingo, primeiro dia da semana,
ou será o último!
não interessa, não me incomoda,
é um dia da semana,
onde as famílias se reúnem, para grandes almoçaradas,
os miúdos correm às voltas das mesas,
contam-se histórias, sai-se à rua,
rua, rua, rua...
é como quem diz, sai-se de casa,
para se entrar numa casa maior,
aglomeram-se pessoas pelos Shoppings, que gastam o piso
que caminham todas como se de uma manifestação se tratasse,
eu acho que as manifestações teriam e, fariam mais sentido
nas galerias do shopping, aos domingos
nem era preciso chama-los, eles estão sempre lá,
mas como em tudo, são sempre os mesmos!!!
Mas quem disse que nas manifestações não são?
As estradas enchem-se de veículos, de todos os tipos e tamanhos,
com a coincidência, de estarem todos polidos sem um risco nem poeira...
Se não houver mais nada para fazer, se as estradas estiverem livres, é uma verdadeira angústia, como se passa o tempo??
Então, vai-se a um cinema, de preferência num shopping, mas disso ninguém tem culpa,
so os há la!!!! Bem, eu diria que se vai ver um filme, e não cinema,
Fazem-se mais uma vez, filas enormes para comprar pipocas,
como se pode ver um filme sem pipocas!!!!, Teríamos que estar atentos,
e, isso é uma seca, chateia-se a pessoa do lado, com o gra gra gra das pipocas,
o da frente com a que saltou, e sai-se do filme, e continua-se o dia.
Não se conversa sobre o que se viu, pois, porque se calhar não viram!
Os domingos são passados em filas, ou em aglomerações, à saída e à chegada, todos voltam entre as 6 e sete da tarde para casa, e pronto liga-se a televisão, na sportv de preferência, e assim se passou mais um dia de convivio....
Isto tudo, se não houver 50 jogos de futebol seguidos na Sporttv, porque aí, então reunem-se os homens na sala virados para o grande plasma, discute-se, berra-se com os árbitros, e as mulheres falam, abusam, invejam-se sobre se as suas criancinhas já deram mais um passo ou não, se já disseram pápa ou máma. Quem quer saber, queremos que estejam bem, e que evoluam como todas as crianças, mas fazemos deles sempre melhores que os dos outros!!!!!!!!
Bem hajam os domingos, de ternura, de amizade, de família não obrigatoriamente, de um passeio, de uma boa conversa, de uma ida a serralves, de uma ida ao cineclube, ou a outro
cinema sem pipocas, bem hajam os passeios pelas calçadas, os pequenos almoços tardios,
um livro, um jornal, uma música, dias de chuva, de orvalho ou de sol.
As cidades despem-se de gente ao domingo à noite, a companhia são os trabalhadores da cidade, alguns perdidos, os morcegos, as estrelas, a lua, e as pessoas que pensam como eu...
Dias de partilha, onde o riso, o brilho não falte, mesmo o choro se for preciso...
Esses sim, durariam muito mais que o dia, porque fica na pele, na memória, arrepiam, e ficamos preenchidos para a semana de trabalho.
Haja domingos diferentes, para todos...

Eternamente

E escrevi o teu nome e o teu número de telefone numa página da agenda do mês de Fevereiro. E, ao escrevê-lo, sabia que era uma despedida, mas todo o mês de Março nos arrastámos na despedida, como caranguejos na maré vazia. Sem ti, lancei outras raízes, construí pátios e terraços, fontes cujo som deveria apagar todos os silêncios, plantei um pomar com cheiro a damasco, mandei fazer um banco de cal à roda de uma árvore para olhar as estrelas do céu, um caminho no meio do olival por onde o luar pousaria à noite, abóbadas de tijolo imaginadas pelo mais sábio dos arquitectos e até teias de aranha suspensas no tecto, como se vigiassem a passagem do tempo. Nada disso tu viste, nada te contei, nada é teu. Sozinhos, eu e a aranha pendurada na sua teia, contemplámo-nos longamente, como quem se descobre, como quem se recolhe, como quem se esconde. Foi assim que vi desfilar os anos, as paredes escurecendo, um pó de tijolo pousando entre as páginas dos mesmos livros que fui lendo, repetidamente. Heathcliff e Catarina Linton destroçados outra vez pela minúcia do tempo.
Como explicar-te como tudo isto se te tornou alheio, como tudo te pareceria agora estranho, como nada do que foi teu vigia o teu hipotético regresso? Ulisses não voltará a Ítaca e Penélope alguma desfará de noite a teia que te teceste.
E arranquei a página da agenda com o teu nome e o teu número de telefone. Veio a seguir Abril e depois o Verão. Vi nascer a flor da tremocilha e das buganvílias adormecidas, vi rebentar o azul dos jacarandás em Junho, vi noites de lua cheia em que todos os animais nocturnos se chamavam rãs, corujas e grilos, e um espesso calor sobre a devassidão da cidade. E já nada disto, juro, era teu.
E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.
Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu pra sempre.

Não te deixarei morrer, David Crockett
de Miguel Sousa Tavares

sábado, 2 de junho de 2007

Poesia no ar, uns dias atrás...

Dia 17 de Maio, e lá fomos nós...
A Poesia está no ar, na boca nos rostos,
nos olhos, nos dentes, está em todo o lugar,
menos em mim... que fugi do meu sol.
Andamos, caminhamos, cruzamos estradas,
passamos linhas de comboio,
o vento sentia-se e vinha do mar,
e, encontramos de repente a voz da lua, do sol, do mar,
da guitarra, esta voz do mar, e das letras que vive em mim,
reside, e que a cada passo me acompanha, mas numa segunda feira
ao luar, passou a ser a tua voz...
Estamos em Espinho, terra dos números, mas
onde são as letras que esvoaçam no ar,
os números vivem nas ruas, nas portas,
nas contas, mas é nas letras
que procuro o meu ser,
que tanto quero encontrar,
mas vamos despertar como diz o poeta,
despertar para o sorriso adormecido,
para o olhar parado porque a mão não pode parar.

Rosa branca ao peito


Rosa branca ao peito
Teu corpinho adolescente cheira a princípio do mundo.
Ainda está por soprar a brisa que há-de agitar a tua seara.
Ainda está por romper a seara que há-de rasgar o teu solo fecundo.
Ainda está por arrotear o solo que há-de sorver a água clara.
Ainda está por ascender a nuvem que há-de chover a tua chuva.
Ainda está por arder o sol que há-de evaporar a água da tua nuvem.

Mas tudo te espera desde o princípio do mundo:
a doce brisa, a verde seara, o solo fecundo.
Tudo te espera desde o princípio de tudo:
a água clara, a fofa nuvem, o sol agudo.

Tu sabes, tu sabes tudo.
Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
Tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo
que desde o princípio do mundo sabem tudo.
O teu cabelo sabe que há-de crescer
e que há-de ser louro.
As tuas lágrimas sabem que hão-de correr
nas horas de choro
Os teus peitos sabem que hão-de estremecer
no dia do riso.
O teu rosto sabe que há-de enrubescer
quando for preciso.

Quando te sentires perdida
fecha os olhos e sorri.
Não tenhas medo da Vida
que a Vida vive por si.
Tu és como a doce brisa, a verde seara e o solo fecundo
que sabem tudo desde o princípio do mundo.
tu és como a água clara, a fofa nuvem e o sol agudo.
A tua inocência sabe tudo.

(António Gedeão)

Porque o lês, porque continuo a ouvir-te...
Sempre me dedicado, porque tenho eu que ouvir-te??
A Rosa Branca fura o meu peito,
quem perceberá essa dor,
saberei eu tudo desde o príncipio do Mundo,
será que alguém ouve a dor do meu silêncio,
senão tu caderno negro,
cúmplice do sorriso, e do choro,
porque não me falas,
porque não te resumes a mim,
eu que dou asas a tudo e que te escrevo,
e tu meu caderno escreves-te em mim todos os dias
e eu visto-te por dentro

Ausência


Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado
.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinicius de Moraes)

A quem me escreveu um pedaço deste poema...

A história da compra dos CDS pelas capas...


Eu sou aficcionada pela música, ando, procuro, rastejo por uma boa melodia, uma grande voz...

As capas...

Quando iniciei a ter gosto pela música, a ter um conceito diferente desta, a sentir que podia viajar naqueles objectos redondos, a felicidade a comprar um CD, que pouco depois derretia no meu ouvido.

Deparava-me com situações, dado que ainda mal conhecia os grupos, numa procura louca nas enormes estantes da Fnac, ou de outra discoteca qualquer, carbono, valentim de carvalho até às mais intimistas, até que comecei a associar que muitas vezes a sonoridade era lançada pela capa.

Questionava-me como encontrei este prodígio musical, porque peguei neste e não no outro??

Mas isto é como o amor, cai-nos nas mãos, e não nos queremos largar mais deles, sim apaixonou-me pelas capas, estas muitas vezes revelam, são autênticas fotografias dos interiores, é preciso é ter capacidade para olha-las!!!
As capas, a estética, o design, o bom gosto, não pode ser completamente alheio ao interior, mas não é a beleza fácil, mas pura que conjugado com o nosso estado de espírito, faz-nos voar por entre as letras.
Raramente falha!!!
Ter capacidade de olhar para a capa e ver para lá, sentir a música, é algo único e maravilhoso.
A música transporta-me para viagens inesqueciveis na minha vida, algo que me lembro com o maior sorriso.
A música é como as cidades, melhora quando não é facil, não se sente à primeira, temos que a descobrir, em cada canto, nos transporta, às vezes é sombria, às vezes enigmática outras até arrogante, mas depois só dá vontade de a devorar.
A música é o meu porto, o meu abrigo, a minha companhia, a alegria, o amor.
Há músicas que queremos ouvir, sentir, repetir, sentir por dentro e por fora, que não é imediata, que não nos é introduzida nem injectada todos os dias pela rádio, pelas vozes e pela parede do vizinho... é aquela que tem imaginário, e que dançamos em silêncio sentada no sofá.
Eu vivo dentro da música.

O Farol no Vento do Norte...


O vento do norte, aquele que acompanha tantas vezes,
aquele vento norte que eu procurei,
aquele vento que me acha,
o mesmo vento do filme "Chocolate".
Aquele vento que bate e, que só o sentimos quando temos que mudar,
É o vento da mudança, o vento nómada,
às vezes torna-se brisa do mar, EXISTE,
mas não se sente, não precisamos de mudar,
mas sim de evoluir onde estamos.
Naquela pequena aldeia junto a Toulose,
onde o filme se cruza, naquela aldeia que já me apetece voltar,
Voltar! eu nunca lá estive, será que não???
Estive, comi o chocolate derretido dos sentimentos, chocolates com cor e sabor,
que falam, chocolate que nos faz acreditar que a vida não é amarga,
esse chocolate que barra o vento,
Ai, esse vento do norte que me faz sentir viva.
Procuro o vento do norte, que me abraça, e que se perdeu numa noite...

O farol é a luz, é o imaginário, são as minhas bolinhas de neve,

fica junto ao mar onde as ondas e o vento sorriem.

O meu farol, o meu guia, a minha luz, onde em noites de nevoeiro,

encaminha os barcos para terra, o farol que espelha o sorriso no céu,

onde o zumbido nos faz caminhar e entrelaça-se com o vento do norte,

a luz que corta o vento.

O mar é o meu lugar, responde ao meu silêncio,

Sinto uma vontade enorme de me deitar neste mar, junto ao meu farol,

desaparecer entre as àguas salgadas e frias..., mas vejo lá ao longe os barcos...vejo a luz...

E haverá sempre marés altas e baixas, mais ou menos areia,

quem decide onde quero viver sou eu..

E pego no vento, no farol no mar, nas cores e solto-as para letras, em páginas brancas.


E assim, se começa.... até que o vento do norte...juntamente com o farol... nos leve