quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Os Filmes....

A responder ao difícil desafio de Maria Vienne aqui vai a lista dos 10 filmes que saltaram da tela com uma vida maior que a dos outros:

Coração Selvagem; David Linch

Uma História Simples; David Linch

A trilogia das Cores (Azul, Branco e Vermelho); Krzysztof Kieslowski

Cinema Paraíso; Giuseppe Tornatore

Chocolate; Lass Hallstrom

Big Fish; Tim Burton

The Shining; Stanley Kubrick

Querido Diário; Nanni Moretti

25th Hour; Spike Lee

Good Bye Lenin!; Wolfgang Becker

Beijo Linda!

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Casa por entre casas

Imagem: Cantabria, Agosto 2007

A minha casa está por entre tantas,
umas amarelas, azuis, verdes, brancas,
percorro todas as casas e encontro-me do lado de fora,
miro a janela e vejo a sombra de vida nas paredes de dentro,
deito-me na relva verde, olho o céu azul, embrulho-me no manto da montanha,
percorro as ruas de noite e dia,
e, procuro a minha casa,
procuro a luz de dentro,
que me chame pela porta,
sem campanhia quero entrar,
pela janela rasgada do telhado,
onde o meu miar se ouvirá na noite quente, e na manhã fria,
esta minha casa, por entre as ruas,
por entre avenidas,
perdida do mundo,
e achada dentro de mim,
é a minha casa de papel, de madeira,
de folhas, de companhia, de sinos,
de pulsar a vida, que me encoraja a dormir todos os dias.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Farol enterrado na areia


O Farol de Rubjerg Knude foi construído em 1899 no alto de uma colina, a cerca de 60 metros acima do nível do mar, numa península fria da Jutlandia na Dinamarca.

Iniciou a sua luz em 27 de Dezembro de 1900, os barcos detectavam a sua luz a cerca de 40 km.

As tempestades de areia foram cobrindo o farol, até que em 1968 a sua luz deixou de ser visível, funcionando como museu até 2002, ano em que a duna acabou por sepulta-lo.

Encontrado aqui: http://fogonazos.blogspot.com/2006/06/faro-enterrado-en-la-arena.html

....................................................................

O vento sopra e sopra forte, muito forte,
as tempestades acontecem, mesmo quando não é suposto
e assim,
há faróis que se vão escondendo nas dunas,
ficam presos,
mas que a luz não se perca no horizonte,
apesar de ser fina,
míuda,
mas que cresca a duna,
até à luz,
para voltar a dar o toque de magia,
ao fio que brilhará, um dia no céu escuro...


até que soprará novamente um vento que descobrirá o manto e reflectirá a luz... na direcção de um barco que a sinta.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Design poético: Jean Nouvel


Imagens: www.corian.com

Hoje li numa revista sobre o novo design de Jean Nouvel, o arquitecto francês, denominado NOUVEL LUMIÈRES.
Acho interessantissima a ideia dos jogos de luzes por detrás dos armários da cozinha, que desvenda todo o seu interior.

É o design poético, afinal a poesia também está nas coisas.

É o conceito ver para lá...

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Vou...

E, assim vou,

e viajam comigo estas músicas Life worth Living e Finding a Light dos Aerogramme.

O farol em busca de outros faróis

Imagem: ?

Finalmente!!!!!!!!!
vou percorrer a estrada a caminho de outros faróis,
de outros picos, de outras terras.

Em busca dos faróis,
iniciarei a busca pelo farol da Corunha, construído no século II, é o único farol romano que existe no mundo, e que continua a iluminar o mar.

Como muitos faróis tem associado lendas relacionadas à sua construção. Reza a história que Hércules chegou de barco às costas que rodeiam actualmente a torre e que foi, precisamente ali, o lugar onde enterrou a cabeça do gigante Gérion, depois de o vencer em combate.

Assim por entre os faróis e o vento do norte caminharei pelas dunas até às montanhas para sentir o verde que invade o azul, iluminado na noite.
Bom fim de semana, boa semana e boas férias!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Cortinas castanhas

Imagem: calenco

Quero umas cortinas castanhas,
numa casa de pedra,
onde o olhar me leve para uma estufa,
com árvores, com passáros que me acordem do meu silêncio,
quero umas cortinas castanhas, para que o fogo da lareira as clareie,
quero umas cortinas, para que a luz do sol passe e se reflicta no soalho,
quero um soalho que sinta a minha presença,
quero umas cortinas castanhas para que se sinta a cor da casa,
quero umas cortinas para as abrir todos os dias,
e sentir o cheiro do outono a chegar,
quero umas cortinas castanhas,
para que as folhas esvoacem e as tornem amarelas,
quero umas cortinas para que o vento entre,
e as façam voar em direcção ao tecto,
quero umas cortinas castanhas,
porque estou farta das brancas...
quero umas cortinas castanhas,
que me embalem nos sonhos que há para lá das janelas,
quero janelas rasgadas para a vida, quero um outono,
com frio com vento e com o farol,
quero voar nas minhas cortinas castanhas,
Mas eu não tenho cortinas?
Mas quero voar....

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Peço ao vento...

Imagem: Ellen Kooi

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua vermelha.
(Herberto Helder)

Entre o vento que me acompanha e a poesia que me alimenta o farol ganha vida.....

Já cá estou...


Pois é, este ano decidi-me a corrê-los todos...

Já cá estou em Paredes de Coura.

Depois de umas curvas e contracurvas, percebi que viajar sozinha, às vezes é dificil...

basta uma viragem mal feita... sim são só dois olhos... e pronto mais uma volta... e para ver o mapa, é preciso parar, e voltar a parar, perguntar por estas terras não é muito fácil, é tudo tão longe, tão longe... que passados 100 m estamos lá e não queremos acreditar, porque o vai sempre em frente asemelhava-se a kms e kms...

mas já cá estou numa casa de campo, onde até agora o milho é que tem melodia. Ansiosamente à espera que o anfiteatro natural exploda.

Espero por todos os amigos que cá vão estar para partilharmos os sons.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Apelo

Imagem: S. Sebastian fev 07

Na areia por onde passo,
Deixo pegadas,
Que se afogam,
Nas ondas da praia.

O vento, que se faz sentir
Agita, as nuvens carregadas
De água.
E estas iniciam o seu choro.

Nesta praia,
Onde venho chorar,
Vezes sem fim,
Passeio à beira-mar.

O vento açoita-me,
A chuva molha-me,
A tristeza assola-me,
E eu caminho,
Chapinhando,
Nas ondas que se desfazem
Na praia.

Só, sozinho
Nesta praia deserta
Num dia de Inverno
Perdido,
Num mês de Primavera
Liberto a minha imaginação...

E como na tela,
De um pintor.
Apenas as gaivotas
E o amor,
Não aparecem
Em desenhos, de cor.

Navego, ao sabor do vento
Numa folha de papel
Onde derramo pensamentos.

E neste triste quadro
Pinto mágoas
Em telas de desalento

(Vinicius de Moraes)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Abraçar

Imagem: Eu, Vicenza Set 05

... Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar....

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

............................................. E será que não é?
........................................................ e assim se abraça a vida...

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Amar...

Imagem: Autor desconhecido

Amar...
Que pode uma criatura
senão, entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa, paciente,
de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita...

(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Em...

Fotografia: Ana Red em http://olhares.aeiou.pt

Em cada tu eu,
em cada nós, vós
em cada
em tudo
em nada
em vida
em amor
em paixão
em solidão
em ti
em mim
em água
em sol
em terra
em verde
em amarelo
em azul
em tudo
em tudo é preciso tirar tudo
quer seja em tu, em eu, em nós, em nada....

A felicidade pode demorar

Ás vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Ás vezes nos falta esperança.
Ás vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.

Ás vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar... é nossa razão de existir.

Ás vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.

Ás vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta o nosso coração pela falta de uma única pessoa.

Ás vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um por de sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto, é a força da natureza nos chamando pra a vida.

(...)

Não deixe de acreditar no amor, mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá, manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam, e certifique-se de que quando estão juntos aquele abraço vale mais que qualquer palavra...
Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá restar.

Aproveite sua família que é uma grande felicidade, quando menos esperamos iniciam-se períodos difíceis em nossas vidas.
Tenha sempre em mente que as vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco, pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.

Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário, existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
Não procure querer conhecer seu futuro antes da hora, nem exagere em seu sofrimento, esperar é dar uma chance à vida para que ela coloque a pessoa certa em seu caminho.

"A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna"

A felicidade pode demorar a chegar, mas o
importante é, que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem
...

(Luís Fernando Verissímo)

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O nosso festival do Sudoeste


Imagens: Blitz

Eram 17:30h, sexta feira, o carro esperava ansioso na sombra que o motor arrancasse, os CDs aqueciam, as malas ferviam e assim, duas MARIAS meteram-se a caminho de mais uma aventura musical.
O Alentejo esperava por nós, a música já arrepiava os presentes, desde o dia anterior. Até que às 18.00h do dia 3 de Agosto, após uma paragem em Lisboa lá chegamos a Cavaleiro, à nossa espera estava a D. Maria que nos arranjaria o quarto para dormir, e assim foi... O quarto das netas da D. Aurora aguardava-nos, uma senhora de Maximinos de Braga que nos meteu logo no coração.

E, de coração fomos caminhando, pela estrada com o verde na paisagem, as àrvores e ao som do The National até ao Festival.
Portas abertas às estrelas do palco, no céu poucas reluziam, ao nevoeiro do fumo branco que saia das bocas - ao mais alto nível, todos têm que fumar, todos têm que passar o charrito, deve ser o baptismo para curtirem... mas o mais engraçado é que deve ser um divertimento que eu não entendo... ninguém salta, ninguém pula, poucos cantam, ninguém se enrola no terrado... dormem, bebem... e caem para o lado.
Já não há diversão só com a música, o ambiente, e à piada de estar vivo, tem que ter a garrafa de "água" na mão, o charro na boca, ou a bebida a entornar... tem que ter químicos... mas queríamos era a química.... o alcóol entra pelas veias, pelo odor, pelos olhos até cairem como tordos!!
Mas há quem suba ao palco, há música!

Cinematics uma banda de Glasgow, a um bom nível, cantam e encantam com um pop melodioso, entre Suede e uns Keane, que nesse preciso momento tocavam na minha querida cidade do Porto.
Os Portugueses Balla, boa música mas sem bala, sem explosão, sem atingir nada.
Os Rock Data, todos de vermelho, aos saltos no palco, exploravam a guitarra e os sons rockeiros.

Na manhã seguinte remamos à praia da Amália, numa falésia entre eucaliptos, suspiravamos por um vento do norte que nos refrescasse... diziam os alentejanos, a praia está cheia!!! digamos que de 10 em 10 m se via alguém...
Noite de Patrick Wolf um inglês irreverente muito electrónico que com ares de strip ia abusando do seu lado gaja...
O palco principal para nós não existiu nessa noite, é definitivamente o festival da Street e do Reggae, apenas o Sérgio Godinho captou a minha atenção. Para mim essa noite foi acompanhada sempre com o ar nortenho da abadia.
Os Koop, com a voz suave de uma mulher, num jazz electrónico, muito bons, mas para espaços mais intimistas.
A noite acabou já tarde ao som de Bloc Party, no regresso ao lar.

Manhã cedo e a praia do Cabo Sardão já acordava ao som das primeiras pégadas, com o farol de fundo, e a falésia com um cheiro que se confundia entre o verde das dunas e o mar, era a paisagem mais bela de todas, a música estava lá e o melhor dos poemas.
Se pudesse recortar aquele sítio e viajar nele, dentro dele, pela estrada... ia até onde o vento me levasse.
Mas a noite ia ser longa e a mais ansiada, até tremiam as pernas, o coração batia mais forte, a pele arrepiava sempre que imaginva que ia sentir os The National, ao vivo a cores, mas no palco secundário... a este pormenor nem comento....

A noite começou no palco principal com os Razorlight, que tiveram luz, tentaram que as poucas pessoas que assistiam os ajudassem a iluminar, com poder, com rock, com guitarra, com interacção, muito bons, e assim cai a noite no sudoeste, onde pouco tempo depois os Phoenix , os franceses num tom muito electrónico, moderno puseram todos os corpos a dançar, num pop muito positivista, ao mesmo tempo os Of Montreal vieram dissipar as dúvidas de quem não conhecia, muito teatrais, com uma voz muito peculiar revolucionaram o público com amostras de música combinadas com vestimentas e videos, num pop muito colorido e psicadélico.
Mas a gente só apareceu, vinda de todos os lados quando em palco aparecerem os "velhinhos" James, com uma séria de hits, que pôs toda a gente a cantar, o vocalista lá fez o jeito, até que no final até puxou um bocadinho pela voz, e dançou freneticamente...
Mas o momento auge, para nós seria no placo secundário onde iriam actuar os The National, mas de facto as lágrimas quase me cairam, o som estava péssimo, os instrumentos não se distinguiam, o som não tinha profundidade, só feedbacks... como é possível, trocavam microfone, colocavam mais um cabo, os músicos passeavam no pequeno palco, até encontrar um local onde não fizessem sons estridentes, mas não era possível.
Matt Berninger, o vocalista, pouco sóbrio, cambaleava por entre o palco, mas a sua voz era magnânime sempre...
Mas só mesmo completamente bêbado era possivel actuar naquele espaço...!!!
Mesmo assim, eles resistiram durante uma hora, foram magnificos, brilhantes, e tão simpáticos.

E, assim acabamos a noite a cambalear também, pelo cansaço, mas vivas da música, da partilha, onde os olhos finalmente brilhavam com pautas de música, e pela estrada rumo ao norte mas com o coração lá, onde a música era viva e as paisagens eram verdadeiras aguarelas.

Para o ano voltaremos.

Espaços

Imagem: Ricardo Tavares retirada da internet

Será um espaço pequeno...ou será o mundo!!!!
Ou serei eu que me torno pequena neste espaço infindável?
Ou serão os infindáveis que estão vazios???
Ou, ou, ou...
não será nada?
nada não será,
Então o que é?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Just a friend

Imagem: Autor desconhecido

Feliz Aniversário,
A tua luz vem de dentro e percorre todas as direcções aumenta na terra e acobreia o céu...

Tu que te procuras na vida que nos aquece, no fogo que nos encanta, no mar que nos banha, nos campos que nos cultivam, nos livros que devoramos, nas palavras que nuncam ficam gastas...

A ti, este farol te ilumina, a ti este farol envia uma luz especial neste dia, que é teu e de mais ninguém...
Espero que o meu vento do norte de tê algum sossego, pelo menos por uns dias..

Beijo Amiga.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007


Entre a procura do olhar que me detém,
e o olhar que me encontra,
fecho a pele,
abro a janela pra entrar a nuvem que passa
e sentir a música da poesia que daí vem!

Era uma vez um país

Imagem: Cathy Delanssay

Era uma vez um país
na ponta do fim do mundo
onde o mar não tinha eco
onde o céu não tinha fundo
onde longe longe longe
mais longe que a ventania
mais longe que a flor da sombra
ou a flor da maresia
em sete lagos de pedra
sete castelos de nuvens
em sete cristais de gelo
uma princesa vivia

Era uma vez
na ponta do fim do mundo
onde o mar não tinha eco
onde o céu não tinha fundo
onde longe longe longe
mais longe que a luz do dia
com a sua coroa de abetos
e seus anéis de silêncio
suas sandálias de tempo
seu tear de nostalgia
uma princesa tecia
o seu tapete de espanto
no fio da fantasia
do seu casulo de encanto

(Ary dos Santos 1937-1984)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Morreu Ingmar Bergman

O mundo perdeu um génio no dia 30 de Julho.

O realizador de cinema Ingmar Bergman morreu aos 89 anos em sua casa, na ilha sueca de Faarö (Gotland)

Talvez o melhor comentário sobre Ingmar Bergman tenha partido de Jean-Luc Godard: "O cinema não é um ofício. É uma arte. Cinema não é um trabalho de equipe. O director está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é só fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico". (Jean-Luc Godard, "Bergmanorama", Cahiers du cinéma, Julho - 1958)

"Fazer filmes é para mim um instinto, uma necessidade como comer, beber ou amar", declarou em 1945.

A Irreversibilidade do Tempo

Imagem: Emil Nold (1867-1956) Autumn Sea VII, 1910

Não te importes amor
se tivermos a alma em desalinho.
Amanhã cortaremos as sombras do quintal
sem acreditar que as sombras devam ser
sombrias. Mas é reconfortante acreditar na língua
e na sabedoria popular
e em tudo o que nos torna cúmplices.

Não te importes se for outono. Nunca pensaremos
que as coisas declinam porque nos amamos,
conjugaremos todas as estações com este amor,
pagaremos os impostos - agora é mais fácil
com o multibanco -, escreverás cartas
e algumas deixarás de escrever
porque as penas do edredão são leves
e não é saudável resistir ao amor.

Não te importes se estivermos ocupados
com pequenas coisas. És tão belo
a limpar a louça como a dizer um poema,
a arrumar os papeis ou a desabotoar-me o vestido.
Pão nosso nos dai hoje e a torradeira amanhã bem cedo,
o forno quente, a manteiga a escorrer, a tua mão a segurar
a chávena e todas as coisas que nos fazem sorrir
só porque nos amamos e o sabemos
por hoje e pelo tempo que virá,
porque resistimos à burocracia e ao cansaço,
porque aprendemos a olhar o rio
a ver como é diferente quando o dia nasce, quando
a noite cai, quando uma chuva miúda torna a terra fértil
e cheira a estrume, a merda de alcatrão lavado.

Não te importes amor se hoje te amo tanto.
Amanhã tem mais uma sílaba
e é com ela que te conjugo entre os lençóis.

(Rosa Alice Branco - 2001)

Retirado do primeiro livro de poesia que me alimentou para todos os outros...