quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

As patas que escrevem

Imagem: Andrea Anghel

Que fazer por aqui,ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avançar, cauto,
meio agastado é sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice de um medo
ainda sem palavras, sem enredo,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

(Alexandre O`Neill)

Obrigada Rachel, pelo envio deste maravilhoso poema que anda....

17 comentários:

Anónimo disse...

Pois é este maravilhoso poema, mas que anda , anda...anda o quê? Podes miar que eu vou entender...
Beijinhos Grandes,
Raquel

Luis Beirão disse...

"Os animais foram
imperfeitos,
compridos de rabo, tristes
de cabeça.
Pouco a pouco se foram
compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça vôo.
O gato,
só o gato apareceu completo
e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.

O homem quer ser peixe e pássaro,
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato
quer ser só gato
e todo gato é gato do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.

Não há unidade
como ele,
não tem
a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa
só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha em seu contorno
firme e sutil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só
ranhura
para jogar as moedas da noite .

Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria,
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu
das telhas eróticas,
o vento do amor
na intempérie
reclamas
quando passas
e pousas
quatro pés delicados
no solo,
cheirando,
desconfiando
de todo o terrestre,
porque tudo
é imundo
para o imaculado pé do gato.

Oh fera independente
da casa, arrogante
vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico
e alheio,
profundíssimo gato,
polícia secreta
dos quartos,
insígnia
de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertences
ao habitante menos misterioso
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gato, companheiros,
colegas,
discípulos ou amigos do seu gato.

Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
Minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos têm números de ouro."

"Ode ao gato", Pablo Neruda.

Bjs, Dal! Dedico ao novo imperador da tua (que digo? agora dele) casa...

lupuscanissignatus disse...

Poema felino...

Ouve-se o ronronar...

Tiago R Cardoso disse...

Muito bem, sim senhor.

Uma excelente escolha.

oskar disse...

tento nem acreditar que nao sou eu o dono da casa...mas e verdade sim...somos realmente servos destes belos felinos...gostei muito...

Alma Nova ® disse...

Belos felinos estes! Sabem ser meigos, mas mantêm a sua independência selvagem!

Ina disse...

O poema é maravilhoso...a foto fantástica!

Besos

Anónimo disse...

Quem somos nós! Quem sabe, talvez felinos meigos, outras não... No fundo somos sempre o que queremos ser, custe aquilo que nos custar, mais vale sermos simplesmente NÓS.

un dress disse...

também tenho umas patas que escrevem.

e sobretudo, inscrevem...:)




beijO

A Conxurada disse...

Que miquiño máis feito, moito me gustan os gatos...o poema, coma sempre, moi ben escollido.

Beijos

Filipe disse...

teus servos sem dúvida

~pi disse...

poema que também dança ambíguo: palavras e macio pêlo :)

Unknown disse...

Hola como estamos por allí?, bonito poema y bella fotografía. Un abrazo desde Bell Vile, Córdoba, Argentina.
PD: compartes el Quirche?

AJO disse...

Acho que mais servos do que donos...

Dalaila disse...

Olá Rachel!

miauuuuuuuu....
beijinho

Olá Luís!

rapidamente vou posta-lo.... obrigada lindo

Olá Lupus!

sente-se o coração felino a bater.

Olá Tiago!

sentem-se as palavras como nossas

Olá Oskar!

eles são os donos de quem os tem.

Olá Alma Nova!

misteriosos, audazes....

Olá Ina!

o poema é de facto felino

Olá Sniper!

ser o que queremos ser, em felinos, com eles ou simplesmente como nós.

Olá Un Dress!

inscrevem-se em nós todos os dias

Olá Conxurada!

as patas escrevem letras de cumplicidade

Olá Filipe!

servos de almas grandes.

Olá pi!

dança nas extremidades das letras

Olá Palomas!

um beijo até aí... por cá ando entre as patas do felino e a quirche, dividi-la, dá-la, partilha-la.
beijo

Olá Ajo!

sempre... e a minha árvore de natal diz isso, por muito que teime, a minha gata manda, e lá vai trepando a árvore, todos os dias....

7 disse...

Em todos nós existe o acto de sermos felinos. Temos por ventura características comportamentais de muitos animais, a diferença é sermos racionais. (o que por sinal, na maioria dos casos, não abona lá muito a nosso favor). Bjs

Dalaila disse...

Olá 7 pecados!

Hehehe!

temos um arranhar diferente.