quinta-feira, 19 de junho de 2008
Como se pode escrever sobre banalidades e ficar a pensar que nada é banal
(Imagem Peta Jones)
As gravatas são uma celebração da inutilidade. São uma forma de dizermos: sim, eu sei que isto não passa de um trapo colorido sem nenhum valor utilitário. Mas o mundo que habitamos, quando despido de qualquer coloração humana, também não passa de uma evidência física incapaz de transportar qualquer sentido, ou beleza, ou eternidade.(...)
Os quadros que amamos são uma mistela de tintas sobre linho: um amontoado de átomos sem nenhuma expressão humana particular. Mas quando os vemos com um olhar grato e deslumbrado, a evidência da tinta desaparece por trás de deuses ou heróis que tomam literalmente conta do quadro. Um traço de tinta é agora um braço; a folhagem perdida de uma vista; o nevoeiro que vem e tudo cobre. E o que ficam são histórias e mais histórias: de como Vénus nasceu das águas. (...)
Mesmo o rosto da pessoa que amamos será uma colecção de tecidos animados por um batimento cardíaco que começa e acaba sem ninguém saber como, ou porquê. Mas o rosto da pessoa que amamos é tudo menos isso: é a promessa de que a nossa solidão é testemunhada e embalada pela simples presença daquele rosto. Os livros de anatomia estão certos. Os livros de anatomia estão completamente errados.
(Excerto do texto de João Pereira Coutinho)
Este texto é mesmo uma delícia, e foi-me enviado pelo meu RG.
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8 comentários:
Nossa... Que texto. De verdade que é maravilhoso, como dizes. E que sorte a minha ter recebido a sua visita para me trazer até aqui Dalaila.
Realmente o valor está na proporção daquilo que julgamos importante para nós.
Un gran beso para ti da Joice!
Lindooooooo.
Dalaila muito lindo esse texto.
E a imagem, então?!
Beijo
=)
Acho que isto dá uma teses de doutorado..muito lindo!
Um rosto � um mapa com olhos, de certo modo um farol.
Bj.
Palavras maravilhosas!
uma delícia de pensamentos
Maravilhoso !!!
beijo de Boa Viagem
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