segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Neste terraço


Imagem: Margherita Blasi

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.

(Carlos Drummond Andrade)

7 comentários:

Ad astra disse...

Bela escolha!

Anónimo disse...

Excelente ... e mesmo sendo o terraço medíocre, com vista tão soberba tomei a ousadia de me deixar ficar encostado ao corrimão ... esperando que alguém me dê de beber!

lupuscanissignatus disse...

bebericar

as

etílicas

sombras

Anónimo disse...

O espaço é tão e somente aquilo que queremos que ele seja!

Just in space

Anónimo disse...

Ola Dalaila, mais uma vez a escolha do poema é fantástica. O poema é belíssimo, mas a fotografia a meu ver não lhe fica a dever nada. Muito boas escolhas. Como sempre ;-)

Um bom resto de semana.

Luísa disse...

Tenho vindo ao teu terraço mas a brisa que corre faz-me retrair da exposição!
Muitos beijinhos,

Luísa

~pi disse...

o mudo é um bloco

às vezes mata-nos momentaneamente a sede?




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