terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ainda há futuros como antigamente?


Imagem: Sophie Thouvenin

Texto publicado no blog Devida Comédia de Miguel Carvalho.


O meu futuro entrou dentro do presente!

Foi antecipado, coisas que não se controlam, o futuro não se controla, o meu futuro começou às 30 semanas, quando estava cheia de líquido amniótico e tiveram que arrancar-me do útero da minha mãe,
E entre esse futuro improvável começava o meu presente.
O meu futuro há 6 meses atrás era nascer agora, nesse futuro previsível, mas como nesse não se manda nem comanda, saltei cá para fora com apenas 7 meses e com o meu coração a disparar,
Aí começa a luta!
Sim, temos que lutar todos os dias do nosso presente, para que o futuro seja ele por si um espaço que vamos atingir.
Comecei os primeiros dias da minha vida numa incubadora, cheia de fios, rodeada de máquinas que apitavam a qualquer momento, aí tinha o amor dos meus pais, sempre presentes, a aprender este novo futuro, as equipas médicas a rodearem-me e a administrarem-me todos os medicamentos necessários, e os amigos lá fora a torcerem, a rezarem (os que acreditam, e os que não acreditam), a pedir para eu ser forte, e lutar por um futuro.
É assim que eu vejo o meu futuro, acabadinha de nascer uma luta pelo que queremos, acreditamos, com força e apoio dos que nos rodeiam, quer nos conheçam ou não.

Com apenas dois meses, posso dizer que já experimentei a competência da medicina destes tempos, a gratuitidade do serviço nacional de saúde, andei numa ambulância para recém-nascidos do INEM e senti o carinho de todas as equipas de saúde que me acompanharam, com isto tudo só posso acreditar que a Humanidade aonde vim parar tem pessoas excepcionais e serviços que funcionam.

Neste tempo todo, tive algumas complicações, mas com toda a minha vontade, amor, querer e confiança que me davam eu ia acreditando todos os dias que conseguia, vencer mais uma etapa.
E é assim que temos que enfrentar o futuro desconhecido, por muitas estradas secundárias, com mais ou menos curvas. È ter confiança no colo que nos dão, para depois conseguirmos caminhar sozinhos.

Eu não sou do tempo dos peões, nem dos berlindes, nem tampouco do pão com marmelada na lancheira, mas sou do tempo do Agora, onde é possível ter isso e muito mais, onde se pode procurar ajuda numa página da net, como num telefonema para um amigo, onde as incubadoras são aquecidas, e os médicos cada vez mais experientes.
Eu nasci na era tecnológica, dos telemóveis, sms, onde já poucas cartas se escrevem, mas ainda existem, onde não há lousas e qualquer dias nem cadernos, eu sou da era dos computadores, smartphones e dos downloads, e de tudo ainda que a mente humana irá inventar. Mas tenho a sensação que também nasci na era do amor, que não precisa de invenção, existe, tem-se e dá-se, dos abraços, onde todos se juntaram e perguntavam por mim, eu nasci na era do colo, dos sorrisos, da família e rodeada de amigos
_________________________________e onde não falta isso, há futuro!

3 comentários:

Luísa disse...

Alexandra, hoje sinto-me da tua idade!Diz à tua mamã que o presente me reinventou....
Podemos jogar ao berlinde, fazer corridas de rolamentos, raspar as caricas nas pedras, e no fim, podemos inventar um jogo para a tua mini consola...
Benvinda ao teu primeiro ano que, garantidamente, será 10!

Sónia disse...

As maiores felicidades para ti Alexandra. Que a vida te sorria...sempre. Sê feliz!

Bípede Falante disse...

Futuro como antigamente é repetir o passado. Parece mais seguro, mas deve ser bem menos estimulante.