sexta-feira, 13 de julho de 2007

Morte devagar

Imagem: Cathy Delanssay

Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os 'is' em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia.
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

(Martha Medeiros)

3 comentários:

Anónimo disse...

Morrer lentamente é o mesmo que aproveitar de deixar de viver...


Mas vive intensamente quem na morte lenta procura, com fome, o pão que alimenta a vida: o amor.


Vive intensamente quem, na escuridão, vê raiar a partilha, o gozo pelo defeito e o prazer de o ter.

Aí, viverás lentamente e poderás partilhar o salto, o passeio de trotinete, o susto da queda e a risada no erguer.

Por vezes, morrer lentamente é tão somente aprender a vida!

Anónimo disse...

Gostaria de te enviar uma FLOR
Gostaria de dizer que torço por ti
Gostaria de aplaudir animada ao teu espectáculo
Gostaria de gritat vementemente: BRAVO!BRAVO!BRAVO! e atirar rosas para o palco.

Ok. Imagina que estou lá!

Parte uma perna.

Dalaila disse...

Imagino que estiveste, não tu estás sempre, porque me acompanhas..., com um just a friend como tu, nunca se morre lentamente, porque mesmo na velocidade parada, lenta, nós vivemos, porque fazemos viver...A procura do amor, muitas vezes está em nós... é lá que tenho que me encontrar, dentro de mim, e explodir como um pé que alcança o céu, mas em terra firme.