segunda-feira, 30 de junho de 2008

Com palavras



Imagem: Aurélie Villegas

Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras - inaudíveis - grito
para rasgar os risos que nos cercam.

Ah!, de palavras estamos todos cheios.
Possuímos arquivos, sabemo-los de cor
em quatro ou cinco línguas.
Tomamo-las à noite em comprimidos
para dormir o cansaço.

As palavras embrulham-se na língua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silêncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?

Possuímos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade...
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmão que as encerra.

Atravessa-nos um rio de palavras:
com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me as palavras para contar...

Egito Gonçalves,
in Sonhar a Terra Livre e Insubmissa

11 comentários:

Lyra disse...

Passo por aqui para te ler e reler, o que sabe sempre muito bem!

Aproveito para te desejar uma execelente semana.

Beijinhos e até breve.

;O)

~pi disse...

e água que às vezes falta

para

por

dentro

regar...




~

Anónimo disse...

Esplendoroso!

Adriana disse...

Maravilhoso!!

Anónimo disse...

Nostálgico!!!

just a word

Tiago R Cardoso disse...

Excelente.

Dalaiama disse...

Poema muito bonito!
E o teu nome também é bem interessante; «Dalaila» será que vem de... Dalai Lama? :-)

lupuscanissignatus disse...

rio

sem

açudes

nem

barragens

Luis Beirão disse...

Muito bonito! Egito é sempre uma óptima escolha, Dal - e este poema em particular, muito interessante!

Bjs,
Luis

Luis Beirão disse...

Muito bonito! Egito é sempre uma óptima escolha, Dal - e este poema em particular, muito interessante!

Bjs,
Luis

ॐ Hanah ॐ disse...

as palavras...
sempre as perco...

linda partilha....


bjos