O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei
que um poema se escreveria entre nós os dois, mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.
Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes
porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos - Deus tem as mãos grandes.
(Maria do Rosário Pedreira - O canto do vento nos ciprestes, 2002)
5 comentários:
Nesta foto magnífica, acedo que o vermelho, afinal, tem alguma utilidade.
Vimaranense de gema e dragão de signo. Aposto que não será só zodiacal.
Soberbo.
Obrigado pelo post. Não conhecia a poetisa.
"Não me perguntes/
porque se mata o sol na lâmina dos dias."
Magnífico.
Olá JG!
Vermelho, é uma cor linda... às vezes é mal empregue, estragam!!
Zodiacal? Só? Não, antes de o ser já o era...
Olá Lupussignatus!
essa frase também me tocou e muito, a Maria do Rosário tem uma poesia muito própria, muito densa, quente.
Gosto muito! E aconselho vivamente.
Boa semana, com poesia.
Olá JG!
Quem tem essa percepção, que tiveste, só pode ter bom gosto, na cor...!
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