segunda-feira, 25 de junho de 2007

Eu sei, não te conheço mas existes...

Eu sei, não te conheço mas existes.
Por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira ou um grito.

Não me perguntes como mas ainda me lembro
quando no outono
cresceram no teu peito duas alegres laranjas
que eu apertei nas minhas mãos
e perfumaram depois a minha boca.

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
Não é um sonho, juro,
são apenas as minhas mãos sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.

É apenas este rio que me percorre há muito
e desagua em ti,
porque tu és o mar
que acolhe os meus destroços.

É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome
com todas as coisas.
Tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente à tua procura,
sempre à tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar
só porque é a ti,
a ti que eu amo.


Joaquim Pessoa, Os Olhos de Isa

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